Manuel João Carvalho Barrocas, foi um antigo aluno da Fragata D. Fernando II e Glória com o número 159, tendo entrado para aquela instituição no ano de 1955 e saído em 1957, onde ingressou na Marinha Mercante e embarcado nos navios portugueses “Timor”,“Funchal” e “Angra do Heroísmo”, mas também no navio francês “Charles Tellier” que transportava emigrantes portugueses para o Brasil, e nos navios ingleses “Aragon” e “Fairskay”, este último onde deu a volta ao mundo transportando emigrantes ingleses para a Austrália e Nova Zelândia.
Mais tarde, para além de outras funções que desempenhou ao logo da sua vida de trabalho, veio a desempenhar as funções de desenhador industrial na Sorefame.
Da sua alcunha “O Pachachinha”, apenas se lembra que o passaram a chamar assim porque quando entrou para a Fragata a farda que lhe deram já tinha inscrito aquele adjectivo no peito, possivelmente de um antigo aluno a quem lhe atribuíram aquela alcunha, e que o Barrocas veio a “herdar” sem nunca saber de quem se tratava.
Apesar de a sua juventude contar hoje com os seus setenta anos de idade e de por vezes andar de “braço dado” com alguns problemas de saúde, o Barrocas continua a manter uma actividade bastante intensa mas deveras dignificante, tendo em conta as várias áreas em que intervêm, dando um pouco de si em prol dos outros sem nada pedir em troca.
Como ele costuma dizer; ― “A vida tem de ter solidariedade senão não tem sentido”, ao mesmo que tempo que se lamenta dizendo:
― Por aqui nestas aldeias do interior tudo vai mal. As pessoas continuam com os mesmos problemas que ninguém resolve. As pessoas continuam a ter que ir ao médico às cinco da manhã, atravessando pinhais e caminhar cerca de cinco quilómetros ― Continuando:
― O desemprego está a atirar muita gente para a porta dos cafés e já começa a haver assaltos nas vilas aqui próximas.
Com base num longo texto que me enviou, onde descreve o seu percurso de vida, e que se torna impossível aqui reproduzir, ficando-se apenas com um pequeno resumo do mesmo, e tendo como pano de fundo esta sua preocupação que é constante, o Barrocas, segundo a sua experiência de vida, lá vai abdicando do seu próprio tempo para se dedicar aos outros, pois de outra forma a sua vida não teria sentido.
Desde o trabalho voluntário que presta (na companhia da sua esposa) aos idosos sem família na aldeia de Serrazes onde habita, prestando-lhes apoio social, minimizando as suas dificuldades de mobilidade; à Associação de Solidariedade Social de Santa Cruz da Trapa (ARCA) de que fez parte da sua direcção, onde participava na distribuição de bens alimentares e de roupas aos mais necessitados.
Ao gosto que tem em preservar as tradições e os costumes com a colecção de peças de artesanato que fazem parte do passado rural; pela sua preocupação pela preservação da memória colectiva, ora como correspondente dos jornais “Gazeta da Beira” (São Pedro do Sul) e do “Notícias de Lafões”, com a elaboração de artigos de opinião editados na imprensa local, passando pela actividade cultural e musical que exerce, tocando viola num Grupo de idosos de Santa Cruz e no Rancho Folclórico da sua terra.
Existem vários exemplos no nosso país de pessoas que do seu trabalho voluntário tentam minimizar o sofrimento dos outros mas, neste caso particular, o nosso companheiro Barrocas merece da nossa parte toda a admiração, não só por ter sido ex-aluno da Fragata D. Fernando II e Glória do qual muito se orgulha, mas principalmente por ter dedicado parte da sua vida ao apoio dos mais necessitados, apoio esse que vai mantendo apesar da sua jovem idade.
É de facto de louvar quem do seu tempo ainda lhes sobra outro tanto em favor dos outros e, por esse facto, em nome de todos nós, aqui fica esta singela e justa homenagem a este nosso companheiro (e a todos aqueles que se dedicam a estas causas nobres) que vai mantendo bem alto, com a lucidez humanista que o caracteriza, os valores da solidariedade social.
É de facto um exemplo de vida, e é com bastante satisfação e orgulho que registamos aqui a dedicação de um ex-aluno da Fragata D. Fernando II e Glória em prol dos que mais necessitam.
Bem-haja amigo Barrocas. Ainda bem que ainda existem pessoas assim.
Carlos Vardasca
(Braz, Ex-Aluno nº 14)
19 de Outubro de 2011
Foto 1: O Manuel João Carvalho Barrocas (de panamá branco) a bordo da Fragata D. Fernando II e Glória, no dia 02 de Abril de 2010, a quando da realização do IV Encontro Nacional dos Antigos Alunos daquela instituição. Em destaque, uma foto sua quando era aluno.
Foto 2: Aspecto de uma parede da sua casa, onde se denota a preocupação do Barrocas na reclha e preservação de utensílios relacionados com a actividade rural e outros ofícios.
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