quarta-feira, 15 de abril de 2015

Mensagem do ex-aluno nº 170. Joaquim Alves Rodrigues ("Chiramaneco")

Joaquim Alves Rodrigues, ex- aluno nº 170 ("Chiramaneco") 1952-1956

Amigo Vardasca

Dado os meus 75 anos já não me aventuro a saídas muito longas sozinho, mas também o quanto dispendioso fica a minha deslocação a Setúbal, porque tenho que pagar a estadia em Lisboa.

Lamento muito de não estar presente, mas nunca esquecerei todos aqueles que passaram pela nossa Fragata.

Aproveito para lhe fazer um pedido, gostaria de fazer um quadro com a Fragata D. Fernando que está no convite, pedia ao camarada se seria possível enviar através do correio eletrónico esta foto que eu acho tão linda e tão real.
Um grande abraço para si e a todos os fragateiros.
fragata sempre até morrer.

Resposta enviada:

Olá amigo

Lamentamos que não possas estar presente no nosso VIII Encontro Nacional, pois são sempre momentos de reencontro e que nos causam grande satisfação.
Nós compreendemos a tua situação e à medida que vamos avançando na idade todos nós iremos passar pelo mesmo.
Em todo o caso, e sempre que se proporcionar e que possas vir, nós contamos sempre contigo.
Envio-te em anexo a foto que pretendes, junto de outra que também é interessante.
Um abraço e até breve.

Carlos Vardasca

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Faz hoje 52 anos que ardeu a FRAGATA D. FERNANDO II E GLÓRIA (3 de Abril de 1963)



...ERA DE FACTO UMA BELÍSSIMA NAU
Todos nós, ao longo da nossa infância, fomos criando em nosso redor uma imagem à semelhança dos nossos heróis, mesmo que em batalhas nunca dantes travadas. Quantas vezes, à saída dos cinemas, inflamados com a destreza do "rapaz" do filme, nos revíamos naquela personagem, e nos sentíamos tão capazes de aplicar aquela ficção que não se encaixava numa realidade que momentaneamente fingíamos desconhecer. 
Quando fui para a Fragata D. Fernando II e Glória tinha apenas 13 anos, e vivi um desses momentos, ao ficar tão fascinado com a beleza daquela nau, "última das Índias". 

Era uma criança que se imaginava num barco de piratas, pronto a travar outras tantas batalhas contra a pobreza que me fizera seu tripulante. 
Desde os canhões alinhados como se ainda espreitassem o inimigo, aos bacamartes e armas de todo o tipo que enfeitavam o seu interior, tudo me recordava a façanha dos corsários que sempre tentei imitar. Não fosse o seu comandante (Sr. Campos, Capitão de Mar e Guerra) interromper aquele sonho que se previa prolongar naquele primeiro dia a bordo, "até que o meu imaginário se dispersasse não sei por quantas ilhas à procura de um tesouro que não existia":
― Então rapaz! Estás a gostar do teu primeiro dia a bordo? 
Como muito envergonhado que era, em vez de lhe responder, comecei a chorar. 
De imediato, senti-me envolvido por uns braços fortes que, pelo carinho e afecto que transmitiram, me fizeram esquecer a ausência do aconchego familiar, "como se a fita do filme se tivesse partido e a realidade recomeçasse nalgumas cenas mais à frente".
Foi assim desta forma que vivi o primeiro dia a bordo daquela velha Nau, feita Navio Escola para meninos deserdados de afectos, "mas feitos homens iguais a tantos outros, que mais tarde souberam moldar a vida com as ferramentas ali ensinadas".
Era de facto muito bela, e por isso ainda hoje me sinto órfão daquela nau.


Carlos Vardasca
Artigo escrito em 18 de Setembro de 2007