sexta-feira, 15 de abril de 2016

Memórias de Carlos Aniceto (ex-aluno da Fragata)

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Viva Carlos

Em anexo envio uma foto da Fanfarra a desfilar em Setúbal, creio que na Feira de Santiago, Julho em 1970.
Consigo identificar o "pato" que é vai à frente  de todos, na fila de trás, o Batista é o 1º do lado esquerdo, junto ao passeio, ao lado dele está o Osvaldo, e eu sou o 1ºda fila da frente do lado direito. 
É pena que o "Camoca", e o João Lisboa tenham falecido, eu dava-me bem os dois, o "Camoca" foi quem me ensinou a colocar o "alcache" e a "manta de seda", e o João estava sempre a cantar músicas de Cabo Verde, ao ritmo dos toques de um pente, a bater nas portas do cacifo. Que descansem em paz companheiros!... e que a vossa memória possa  sempre ser recordada no "Cesto da Gávea".
Sempre que vou a Setúbal, passo pelas antigas instalações da FDF, e é com nostalgia que me recordo de coisas passadas, de que vou salientar dois casos. Participei na construção dos presépios dos Natais de 1969 e 1970 , ao despique com um aluno do qual esqueci o nome, mas era do Minho, e tinha o cabelo loiro. Ganhei o primeiro prémio, em dinheiro, nesses dois anos, e gastei tudo em tabaco barato e pirolitos, na tasca que estava mesmo em frente da FDF.
Com o dinheiro  dos prémios eu passava a "rico", pois dinheiro não abundava, e andava atrás de mim uma legião de malta a cravar-me tabaco, e as "guelras" dos cigarros já fumados. Ser pobre é lixado...
Uma noite, depois do recolher, eu, com mais cinco ou seis alunos, saímos por  uma janela da camarata grande, com lençóis atados, isto para irmos ao cinema, pois entrávamos de borla, fomos ver um filme com um cantor em voga na altura chamado AlBano, correu tudo bem para lá, no regresso quando entrámos na camarata, estava à nossa espera  o cabo de bigodinho chamado ???? que nos catou a todos, e nos aplicou uma semana de castigo, a escamar peixe na cozinha, e a levar as tripas em baldes para para serem despejas no Sado.
É sempre bom voltar  a recordar velhas memórias.
Fica bem 
Carlos Aniceto 

Ex aluno FDF nº347 anos 69/71

terça-feira, 5 de abril de 2016

Quem é que sabe (para além do Aniceto) por onde pára esta malta?


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Na foto estão: Nené, Aniceto, "Lisboa" (de cigarro na boca) Natalino (de relógio no pulso), "Orelhas" (em baixo, o terceiro a contar da esquerda) e o Osvaldo. Quem conhecer os outros agradecíamos que os identificassem.


segunda-feira, 4 de abril de 2016

"Enquanto uns partem, outros vão regressando numa manhã de nevoeiro"


Boa noite Carlos 

Por casualidade entrei no " Cesto da Gávea " e com espanto verifico com agradável surpresa que  há alunos da Fragata ainda activos, que convivem e relembram a memória daquela instituição que nos acolheu a todos.
Eu sou o Carlos Aniceto, tenho 61 anos, e entrei para a Fragata em Abril? de 1969, e saí em Fevereiro de 1971 directamente para a Marinha mercante.
A minha passagem pela Fragata, a princípio foi uma lástima, pois fiz colecção de castigos, levei duas "carecadas", e tocaram-me todos os castigos, depois atinei e passei por vários lugares: barbeiro, carpinteiro, cozinheiro, e finalmente músico (Timbalão) na fanfarra, e saí em beleza.
Dos colegas lembro-me do Max, que era o mais valente de todos nós, do "Banana" do Nené, do "Pato", do "Orelhas" do "Apanha grilos", do Osvaldo, do "Camoca" que dormia por baixo de mim no beliche, do cabo Borracha, do Baptista que era um aprumo na farda, etc.
É bom recordar tempos idos, e saber que a fragata terminou mas ainda há antigos alunos que convivem e relembram a saudosa Fragata.
De várias fotos que tinha só restam 3, as outras lamentavelmente perderam-se.
Envio agora a 1ª e as outras envio mais tarde.
Na foto anexa, eu sou o do meio, ladeado pelo "Cigano" e o Osvaldo, no dia 5 de Janeiro de 1970.
Tive muito prazer em te contactar, e reviver as memórias de quando éramos meninos fragatas.
Fica bem, com um grande abraço do 347

Carlos Aniceto

"Mais uma baixa na nossa tripulação"


Na foto estão os três irmãos: Adriano ("Camoca", nº 269 - já falecido) o João Lisboa (nº 268 - falecido hoje) e o Pedro Lisboa (nº 358).

Caros Fragatas

Fui informado hoje pelo seu irmão (Pedro Lisboa), que o antigo aluno nº 268 da Fragata, João Maria Ferreira Lisboa Santos (João Lisboa), faleceu hoje, Segunda-feira, dia 4 de Abril pelas 0,04 horas no Hospital Amadora Sintra, vítima de doença associada a complicações no fígado.
Em nome de todos os antigos alunos, endereço à família e amigos os nossos sentidos pêsames.

"Cesto da Gávea"
4 de Abril de 2016
Carlos Vardasca
(Braz, ex-aluno nº 14 - 1963-1968)

domingo, 3 de abril de 2016

IX Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória (21 de Maio de 2016)

  

(Clicar nos documentos para os ampliar)


Caros amigos Fragatas

A Comissão Organizadora, tem o prazer de vos informar que vai realizar-se no dia 21 de Maio de 2016 o
IX Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória.
Conforme documentação em anexo, a concentração será junto à Fragata D. Fernando pelas 10,30 horas, e o almoço convívio irá realizar-se pelas 12,30 horas no restaurante VALE DO RIO em Cacilhas.
Muito em breve irão todos receber através dos CTT correspondência referente ao evento, apelando a que todos os antigos alunos e seus familiares “respondam à chamada”, inscrevendo-se até ao dia 10 de Maio, o que para todos nós seria uma grande satisfação encontrarmo-nos de novo.

Nota: Vai-nos fazer companhia no Convívio o Sub-Tenente da Marinha de Guerra Américo Vidigal Alves, autor da Tese de Mestrado sobre a Fragata (capa do livro em anexo) o qual irá disponibilizar os 10 últimos exemplares da sua obra ao preço de 12,00€ cada.
Quem estiver interessado em adquirir um exemplar, deverá desde já manifestar esse interesse e solicitar a sua reserva, telefonando para:
Carlos Vardasca
Telefone: 212020157
Telemóvel: 963899868

Um abraço a todos

A Comissão Organizadora
Augusto Gomes
Carlos Vardasca
Joaquim Lopes
José Alves

Uma data a recordar. 3 de Abril de 1963. 53 anos depois.


Foto 1 e 2: Duas fases do incêndio que destruiu a Fragata D. Fernando II e Glória no dia 3 de Abril de 1963.


" (...) De súbito, algo de estranho e inesperado veio perturbar a tranquilidade daquele momento.
Vários alunos corriam de um lado para o outro, vindos da bateria e da coberta, enquanto outros se socorriam de baldes que vieram buscar ao convés para participar no combate ao incêndio que deflagrara no porão junto ao gerador da luz. Mantendo-se estático, precisamente no mesmo local por onde viajou por mundos imaginários, Braz aí permaneceu, aparentando uma estranha tranquilidade apesar de inquieto, atento ao desenrolar das cenas dos próximos capítulos, cujo romance no seu final se revelaria profundamente dramático.
Ao seu lado, alguns alunos mais velhos, ainda esboçaram pequenas frases na tentativa de tranquilizar os restantes pensando estar ao corrente da situação:
          – É malta! Tenham calma que isto não é nada, é simplesmente um exercício de simulação de incêndio que é costume realizar-se uma vez por mês.
          Apesar daquela tentativa apaziguadora da situação, a inquietação começou a apoderar-se de Braz e de todos os presentes quando uma baforada de chamas e de fumo se elevaram no ar vindo das escadas que davam acesso ao compartimento da bateria. Começando a ficar perturbado, correu desordenadamente em direcção incerta, e ainda tentou saltar do convés para a água, mas recuou devido à altura que lhe coalhou os movimentos.
Nas águas agora revoltas pelo chapinhar de alguns alunos que se tinham atirado ao Tejo e que, no desespero, não tiveram tempo de se lembrar que não sabiam nadar, já se movimentavam embarcações de salvamento vindas do draga-minas NRP Almirante Schultz e de rebocadores que tentavam apagar o incêndio que já alastrava por todo o navio escola.
Desorientado e porque não queria atirar-se ao rio por ainda não ter frequentado as aulas de natação, Braz desceu as escadas para a bateria a muito custo, tentando dirigir-se para o portaló que, apesar do fumo intenso que cobria a totalidade daquela zona, deixava ver, do último degrau das escadas, a claridade que irradiava do lado de fora daquela nau que definhava lentamente, talvez ferida de morte.
Envolto num espesso fumo que lhe sufocava a respiração, tentou chegar ao portaló, mas as forças iam escasseando e caiu em cima de um dos canhões, abraçando-se de imediato a ele na ânsia de se amparar, tentando levantar-se e fugir daquele inferno sufocante e abrasador.
A muito custo, e quase sem forças para se libertar daquele cenário dantesco, conseguiu rastejar até às escadas da bateria de regresso ao convés, apoiando-se no corrimão que lhe serviu de orientação para começar a respirar ar puro, recuperar forças e dirigir-se à baleeira de salvamento que ainda não tinha sido arreada.
A única baleeira que ainda permanecia pendurada nos turcos estava apinhada de alunos que excediam o número de tripulação recomendada para aquele tipo de embarcação, mas Braz, porque desconhecia as regras e mesmo que as soubesse não teria tempo de as cumprir devido ao estado emocional em que se encontrava, meteu-se dentro dela, indo engrossar aquele coro de desespero que aflitivamente implorava que arreassem a baleeira, que já começava a ser chamuscada pelo fumo negro que se libertava do calor das labaredas que se aproximavam com ferocidade de quem ali se refugiara.
Foram feitas várias tentativas para arrear a baleeira mas os cadernais, que teimavam em não obedecer à emergência, assim como a restante engrenagem, envelhecida e há muito carcomida pelo tempo, não acudiam ao desespero dos alunos mais velhos que participavam na operação de salvamento nem aos apelos aflitivos e de desespero expressos por todas aquelas crianças que ocupavam excessivamente a baleeira.
Ainda não liberto do inferno que o atormentava, Braz entrou noutro também dramático, fazendo ouvir os seus apelos de desespero, juntando os seus lamentos aos das restantes crianças que suplicavam por ajuda, envoltas em fumo negro e labaredas que não paravam de avançar na direcção da baleeira.
– Arreiem... arreiem... arreiem a baleeira, senão morremos aqui todos – implorava, numa imensa aflição enquanto as labaredas se aproximavam ferozmente e já começavam a chamuscar o casco do único refúgio, que possibilitaria o salvamento daquelas crianças que choravam angustiadamente com as fagulhas a crepitar à sua volta.
Após várias tentativas para fazer arrear a baleeira sem sucesso enquanto a nau já agonizava ferida de morte, inesperadamente, e sem terem consciência das consequências que daquele acto poderia advir, dois alunos mais velhos surgiram do meio das chamas e, munidos das forças que ainda lhes restavam, avançaram na direcção das talhas que mantinham suspensa a baleeira, tentando arreá-la a muito custo. Como um dos lados foi arreado abruptamente, a baleeira cedeu ficando pendurada somente num dos turcos, e todos os alunos caíram desamparadamente na água, salvando-os a todos daquele inferno intensamente abrasador ao fazê-los mergulhar nas águas do Tejo,  mas sabendo de antemão que toda a fragata em chamas já se encontrava rodeada de barcos de salvamento que recolheriam os alunos que não soubessem nadar.
Braz parecia ter-se despenhado do um precipício e mergulhado nas águas profundas de um lago povoado de monstros. Por várias vezes, no seu trajecto pelas profundezas das águas por onde se afundava e espreitava a superfície, num sobe e desce que se assemelhava a uma dança inglória pela sobrevivência, pareceu ter visto longos tentáculos que o tentavam agarrar em vão, dos quais, inconscientemente, tentava libertar-se.
Com receio de se tratar dos velhos monstros que inundavam a sua imaginação e que atacavam as caravelas vomitando bolas de fogo, gesticulava desordenadamente os braços para se tentar manter à superfície numa aflição deveras egoísta, agarrando-se a tudo o que pudesse ser agarrado, nem que fosse aos pequenos limos que cresciam junto ao casco do velho veleiro como o capim que faz ondular as extensas savanas, ou a outros alunos que também bracejavam nas águas revoltas. As forças começavam a faltar-lhe e a claridade da superfície tornava-se mais distante, cada vez mais escura.
Ao sentir-se abraçado pelos tentáculos de um polvo gigante, tudo parecia perdido. Imaginando-se uma personagem daquelas páginas das histórias aos quadradinhos que povoaram a sua infância e onde tudo felizmente parecia já pré-definido, previa agora que o seu final não ia ser nada feliz. Na escuridão das ravinas que davam guarida àqueles monstros, tudo se assemelhava a extensas grutas, e a sua proximidade deixava a espuma branca das ondas que se espreguiçavam à superfície a distâncias que pensava jamais poder voltar a percorrer, onde a fragata, calcinada, cedia rendida ao fogo na sua última batalha de desfecho inglório.
Mas, ao contrário do que se  poderia prever, a superfície voltou a sorrir-lhe e Braz, extasiado de alegria, viu que afinal os enormes tentáculos não eram mais do que os braços fortes do Tarzan[1], que num esforço enorme e num acto de extrema coragem, o foi arrancar de profundidades incertas e o trouxe até à superfície, colocando-o num bote que já abarrotava de sobreviventes.
Ainda no bote que estava a ser remado para Cacilhas, foram-lhe prestados os primeiros socorros e, já em cima da muralha, através de várias flexões, expulsou um mar de água  daquele corpo que parecia não querer acordar para assistir ao último acto daquela peça trágica.
Era dia 3 de Abril de 1963 e daquele incêndio resultaram apenas dois feridos, o Joãozinho, ferido com alguma gravidade e o René, com ferimentos mais ligeiros, aluno que mais tarde veio a jogar no Futebol Clube os Belenenses.
Órfãos da instituição naval que os acolheu, libertados da fome e da miséria que já grassava ainda dentro do ventre materno, os alunos da Fragata D. Fernando II e Glória enveredaram por um longo processo que roçava o nomadismo institucional sem paradeiro certo. Após o incêndio foram colocados provisoriamente na Escola Profissional de Pesca de Pedrouços e, mais tarde, num edifício da Capitania do Porto de Setúbal até à extinção um pouco inglória daquela obra social, de onde Braz saiu aos dezoito anos de idade com uma cédula marítima com o número 336731 e um certificado de aptidão física, que no seu verso lembrava algumas regras assinado pelo Ministro da Marinha Américo Deus Rodrigues Thomaz, que possibilitou a sua admissão na Marinha Mercante como ajudante de cozinha a bordo do Benguela, navio cargueiro da Companhia Colonial de Navegação, que fazia a carreira nas costas ocidental e oriental de África, com escala em Angola, desde Cabinda até à baía dos Tigres, depois de ter passado pelas ilhas de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, e em Moçambique, desde Lourenço Marques até Porto Amélia, depois de ter aportado em Cape Town, Port Elizabeth e Durban, na África do Sul" (...)

Nota: Pequeno texto retirado do romance "Fardados de Lama", da autoria de Carlos Vardasca (Braz, ex-aluno nº 14-1963-1968) editado em 2016. Editora Eueudito, páginas 128,129,130,131,132 e 133.


[1] Alcunha do aluno José Manuel Lopes, também conhecido pelo Caminha.



sábado, 2 de abril de 2016

Como era bela a nossa Fragata

1. A Fragata no Mar da Palha
2. A Fragata fundeada em frente a Cacilhas.
3. A Fragata na doca da Parry & Son em Cacilhas. Foto de Filipe Oliveira


Fotos e curiosidades do nosso tempo da Fragata

Tenente Morgado
Tenentes Alves, Vinagre e Morgado a bordo da Fragata D. Fernando II e Glória.
Carta da Fragata para António Esteves Ferro.
Documentos gentilmente cedidos pelo filho do Tenente Morgado, Rafael Ferro.