quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Fotos com História

Foto 1: Quando a Fanfarra da Fragata foi tocar a Lagos, à Festa de S. Gonçalo. A seguir à Fanfarra, desfilam os alunos da Escola de Pesca de Pedrouços. Assinalado com uma seta está o António Grifo, que por ser natural de Lagos e estando de férias, foi assistir ao desfile. Por ser verão e estar vestido com a farda de inverno, deve-se ao facto de a farda branca estar com uma nódua, e ter pedido à mãe que passasse a ferro a farda azul para poder ir fardado ver os seus companheiros desfilar. Lagos, 29 de Setembro de 1957
Foto 2: António Grifo, ex-aluno nº 244 ("Grifo") com 12 anos de idade, junto da mãe e da irmã. Lagos 1957.

Foto 3: Júlio Duarte, ex-aluno nº 7 ("Estudante") numa foto actual.
Fotos 4 e 5: Júlio Duarte, ex-aluno nº 7 ("Estudante") com 16 anos de idade, e António Dias, ex-aluno nº 264 ("Setúbal") com 8 anos.
Foto 6: Nesta foto podem ver-se, entre outros (em cima) o professor Carvalho, "René", "Camoca", "Gimini", Cabo Borracha e Amaral. Em baixo: António Dias ("Setúbal"), Celetino e o Padre Fatela. Foto tirada em Fátima no dia 13 de Maio de 1968.

É com grande satisfação que verificamos que cada vez mais "Fragatas" vão aparecendo, e manifestam o seu entusiasmo e satisfação pela pesquisa que se está realizar, com o objectivo de reencontrar velhos amigos com quem já não se cruzam à cerca de 48 anos.
Para além do entusiasmo de dizerem "eu estou aqui e também fui aluno da Fagata" dão-se ao trabalho de me enviarem fotos suas daquele tempo, fotos essas que são autênticas relíquias para quem gosta de preservar o seu passado e recordar um pedaço da sua infância.
Foram os casos do Júlio Duarte ex-aluno nº 7 ("Estudante") do António Dias, ex-aluno nº 264 ("Setúbal") e do António Grifo, ex-aluno nº 244 ("Grifo") que gentilmente também nos cederam as suas fotos para as editarmos no nosso blogue, a exemplo de outros cujas fotos já foram editadas.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pedaços da nossa Fragata"

LEMBRANDO A NOSSA FRAGATA
Falando aqui na minha aldeia com um vizinho meu, sobre os nossos tempos de juventude. Contou-me que saiu daqui com os seus pais que foram trabalhar para a seca do bacalhau, tinha ele acabado de fazer a instrução primária e mal chegou ao Barreiro com 12 anos de idade foi logo trabalhar como aprendiz de carpinteiro naval numa serração de madeiras em Palhais.
Mais tarde ingressou na Lisnave já como carpinteiro naval.
Quando eu lhe disse que tinha saído da nossa aldeia, também muito jovem e que tinha sido aluno da Fragata de D. Fernando, ele convidou-me a ir a sua casa para me mostrar uma peça de artesanato. Fui com ele e, pelo caminho, foi-me dizendo que a Nossa Fragata quando foi desencalhada esteve numa doca na Lisnave e que um colega amigo e com muito jeito para o artesanato arranjou vários bocados de madeira queimada da Fragata e fez com eles várias peças entre elas uma que lhe ofereceu e que ele guarda na sala de estar de sua casa com muito carinho. Essa peça representa um mocho feito em peça única, só a base não é madeira da Fragata pois foi posta posteriormente aqui na nossa aldeia. Se repararmos na foto do mocho as costas ainda estão negras do fogo. Confesso fiquei impressionado ao ver a peça e claro pedi-lhe para me autorizar a fotografa-la acedeu ao meu pedido e eu com todo o gosto aqui a apresento. Saudações para todos os Fragatas.

Manuel João Carvalho Barrocas
ex-Aluno nº 159
(0 "Pachachinha")

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"O menino dos olhos verdes"

Foi apenas com 12 anos de idade que em 01 de Abril de 1963 o Adolfo entrou para a Fragata D. Fernando II e Glória, sendo logo “carimbado” com o número 12, a exemplo do que ele já se habituara nos colégios por onde “vegetara”, carregando, tal como a maioria das crianças naquelas condições, o fardo da ausência dos afectos.
Em 03 de Abril do mesmo ano, com apenas três dias a bordo, também sobreviveu ao trágico incêndio que devorou aquela NAU, escola que dotou muitos dos alunos que por lá passaram das ferramentas fundamentais para se “fazerem à vida”, como dizia o velho sargento “Cachucho”.
Já em Setúbal, no edifício da então Capitania do Porto de Setúbal, onde os alunos da Fragata ficaram alojados, o Adolfo era um dos "meninos" por quem as miúdas daquela cidade se deslumbravam, fascinadas por aqueles olhos verdes que brilhavam numa face clara, fazendo lembrar uma personagem do filme “Laurençe da Arábia”.
Como era próprio da idade, das circunstâncias e do prestígio que os alunos da Fragata gozavam na altura, também ele “brincou aos namorados” com algumas daquelas meninas que se dizia na cidade que faltavam por vezes à escola para rondar o edifício da Capitania, na ânsia de conquistarem um “Fragata” (como era moda na altura) e o exibirem para as colegas da turma pelas ruas de Setúbal.
Não sei se o Adolfo se “deixou morrer de amores” por alguma delas ao ponto de se ter casado, mas o que é certo é que enquanto alguns de nós já navegávamos pelas costas de África, Norte da Europa ou pelos bancos gelados da Terra Nova, o rasto do Adolfo foi-se perdendo do nosso imaginário, descobrindo-se mais tarde que, depois de ter abandonado a Marinha Mercante, já sem objectivos e com a sua vida totalmente desorganizada, deambulava meio perdido pelas ruas de Setúbal, alimentando-se dos favores das “Caritas”, andando perdido pelos recantos escuros do Bairro da Bela Vista.
O ano passado, tentámos saber do seu paradeiro para o convidarmos para passar connosco o dia 18 de Setembro de 2010 no III Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória, que se realizou em Setúbal, tendo alguns de nós manifestado a intenção de lhe prestar algum apoio para minimizar o seu sofrimento.
Um dos nossos companheiros, o “Alegria”, ficou incumbido de estabelecer o contacto com o Adolfo (tal como com o “06” que parecia estar nas mesmas condições) para se juntar a nós naquele dia, deslocando-se às instalações das “Caritas de Setúbal” para o informar da organização do evento, quando uma das funcionárias lhe disse que o Adolfo já tinha falecido há cerca de dois meses.
A vida sempre foi muito ingrata para com aqueles que mais sofrem e, agora que nos preparava-mos para lhe prestar o auxílio que decerto não seria ainda o desejável, é que a morte lhe bateu à porta, precisamente àquele “menino” de olhos verdes que, por entre os intervalos das incertezas da vida, bastas vezes se lembrou de que na sua juventude os seus olhos fascinaram as miúdas do seu tempo que o fizeram ignorar a palavra solidão, um tempo tão efémero, como foi efémera a sua existência neste mundo tão injusto e tão desigual, que não se importa de atirar para a berma da vida aqueles que julga inúteis, os mais frágeis, a quem é imposta uma caridadezinha sem perspectivas de construção de um futuro sólido.
Na impossibilidade de nada mais podermos fazer, aqui fica a homenagem de todos os Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória ao Adolfo, o tal “menino de olhos verdes” que numa “tempestade” perdeu o rumo da sua “navegação” em alto mar, e veio aportar num porto sem-abrigo que o fez “perder o norte à vida”.

Carlos Vardasca
(Braz, ex-Aluno nº 14)
18 de Fevereiro de 2011
Foto: O Augusto (“Torta”) e o Adolfo (do lado direito da foto) na Avenida Luísa Tody em Setúbal.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Fotos com história

Foto 1: Lembram-se da braçadeira de Oficial de Marinheiros?. Material cedido por Júlio Duarte ("Estudante").
Foto 2: O Carlos Manuel Lagartinho da Silva ("Sines", nº 234) a bordo da Fragata junto do seu presépio de natal, na companhia do Comodoro Valente Araújo, Comandante da Escola de Pesca de Pedrouços.
Foto 3: O João Eduardo Ribeiro ("Toureiro", nº 308) num dos seus espectaculares mergulhos da proa da Fragata para o Tejo.
Foto 4: O "Toureiro" a bordo da Fragata.
Foto 5. Equipa da Fragata num encontro de futebol realizado em Almada em 1961. Na foto podem ver-se em pé: "Toureiro", "Cara d'homem",Valente, Floriano Cruz e "Parafuso", entre outros. Em baixo: "Al-Loloco", Fernando, Benavente e "Lixa" entre outros de quem não se sabe o nome.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

"Finalmente encontrámos o "Tarzan"

O "Tarzan" (ou "Caminha") numa foto que ilustrava um artigo do "Correio da Manhã" de 08 de Junho de 2004, onde se relatava o seu percurso e as condições de vida muito precárias em que vivia naquele momento.
O "Tarzan" (assinalado com uma cruz na testa) a bordo da Fragata, na companhia do outros alunos. Em primeiro plano pode ver-se o Júlio Duarte ("Estudante").

Já há muito que perseguíamos este objectivo. Depois daquela notícia vinda no "Correio da Manhã", onde se descreviam as condições de vida muito precárias em que vivia este nosso companheiro, ex-Aluno da "Fragata", ficámos deveras preocupados, e onde foram efectuadas várias diligências para se saber do seu paradeiro.
Depois de tanta persistência, e sem sequer esperarmos por este "desenlace", ele também acabou, e de uma forma tão natural por "dar à costa" e finalmente juntar-se a esta "grande guarnição de ex-Alunos da Fragata, que para nossa grande satisfação vai crescendo todos os dias.
Hoje mesmo ele contactou comigo, respondendo a uma mensagem que lhe deixei no telemóvel. Ficou muito entusiasmado com a ideia da realização do Encontro dos Antigos Alunos, e até manifestou a intenção de contactar com outros quatro antigos alunos que diz conhecer o seu paradeiro (entre os quais diz estar aquele que ficou bastante queimado no incêndio da Fragata; e que nós pensamos ser o "Joãozinho").
Embora todos os ex-Alunos que vamos encontrando todos têm a mesma importância no reatar do seu contacto, o "Tarzan" ou "Caminha" conforme era conhecido o José Manuel Barbosa Lopes, reveste-se de especial importância para mim, porque no dia do incêndio da Fragata foi ele que se atirou às águas do Tejo e me salvou de morrer afogado. Por este gesto (igual a tantos outros efectuados por outros ex-alunos naquele dia trágico) há muito que lhe quero dar um grande abraço, o que estive impossibilitado de o fazer devido ao seu paradeiro ser desconhecido durante alguns anos e o seu contacto ser bastante difícil. Agora, que a sua vida parece felizmente já estar "reencaminhada" e ter finalmente "dado à costa", irei ter um imenso prazer em o abraçar, pois é a única forma que tenho para o recompensar por ter tido aquele gesto tão nobre e de certa forma heróico, e de ter contribuído para que, passados que são cerca de 50 anos eu continuar entre vós e o poder finalmente abraçar.

Carlos Vardasca
(Braz, ex-Aluno nº 14)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Pequenas histórias que o tempo não apaga"

Manuel João Carvalho Barrocas, ex-Aluno nº 159
Olá Amigo Carlos! Tudo bem? Mais uma notícia triste a morte do nosso camarada Silvino. Lembro-me bem dele. Era um colega muito vivo bom jogador de futebol no convés, um rapaz alegre. Fico passado com estas notícias... Mas que vamos fazer a vida é assim mesmo. Ás vezes ponho-me a pensar naquele tempo e lembro-me de coisas interessantes como esta: Haviam na Fragata muitos ratos e davam 2 decilitros de vinho (claro! Que como somos muito católicos o vinho era bem baptizado) a quem matasse um rato, e um dia no paiol dos cabos matei um, atei-lhe um cordel ao rabo e fui mostrá-lo ao Sargento Zé Gordo.
Ele tomou nota do meu número e mandou-me deitar o rato à água mas eu não fiz isso.
Levei-o para o paiol e dei-o ao Silvino, só que tirámos o cordel do rabo do rato e atámos-lhe ao pescoço e assim lá bebemos os dois o vinho. Outra coisa que me marcou muito e que creio nunca irei olvidar foi o seguinte: - Por causa dos ratos, um colega nosso de serviço de noite foi à cozinha e pegou fogo a um pouco de toucinho para ir pôr num canto, afim de apanhar um rato. Quando saiu da cozinha, o toucinho ia a arder mas também a pingar pingos incandescentes, que esse nosso colega começou a deixar cair na cara dos que estavam a dormir.
No dia seguinte, havia uma série de colegas nossos queimados na cara. Claro! Foi castigado mas de uma maneira pré histórica. Mandaram-nos formar e, à nossa frente, ataram-no a um pé de carneiro e despiram-lhe as calças e as cuecas. Depois do Comandante, o 1º Tenente Caldeira da Silva ter lido a sentença, todos os alunos graduados lhe deram duas chicotadas nos rabo... Uma barbaridade no meu entender. Os ratos eram tantos, que tivemos que ir para o Forte das Maias em Paço D'Arcos, onde já se encontravam os miúdos Húngaros refugiados de uma revolta que houve na Hungria, para se fazer uma desratização eficiente. Quando entrava para a Fragata um novo colega, era presente ao Tenente Silva que tinha um impedido que nós chamava-mos de "Algarvio".
Ao perguntar-lhe o nome dos pais e se o rapaz dissesse que era filho de pai incógnito, ele dizia para o "Algarvio":
- Põe aí, "filho de pai económico".
E já se matou mais um pouco de saudades.
Desculpe o tempo que lhe roubo. Um abraço para o meu amigo e outro para esse malandro do "Gorila".
Texto da autoria de Manuel João Carvalho Barrocas, ex-Aluno nº 159 (o "Pachachinha")