sexta-feira, 28 de agosto de 2015

BREVE APONTAMENTO DE UMA "SARDINHADA" EM ALFUFEIRA

Cresta da Associação
Entrada da Associação
Exposição de miniaturas de embarcações de pesca e instrumentos de navegação
Prato em porcelana com o símbolo da Associação
Vitrina de exposição dos troféus
Emblema da Associação
Foto de grupo

Como tem sido hábito, da cada vez que vou de férias (seja para onde for) levo sempre comigo duas listagens de contactos de amigos meus; uma dos ex-alunos da Fragata D. Fernando II e Glória (1963-1967) e outra de ex-companheiros que comigo partilharam as agruras do conflito colonial (Moçambique 1971-1973).
Como este ano rumei ao sul (Albufeira) e como por terras próximas vivem alguns ex-alunos daquela “última nau das Índias”, estabeleci com eles contacto para organizarmos uma “sardinhada”. Depois dos contactos efectuados, telefonei primeiro para o Floriano que não atendeu e depois para o Quintino, para lhes transmitir a relação das pessoas que iam estar presentes, pois tinham ficado os dois de comprar as sardinhas e os carapaus para o almoço de confraternização.
Quando liguei ao Quintino, cerca da meia-noite e trinta, respondeu-me ele numa voz muito ténue o que motivou a minha interrogação:
¾ Onde é que estás metido que te estou a ouvir muito mal? Ao que ele me respondeu muito entusiasmado ao reconhecer a minha voz apesar do adiantado da hora:
¾ Epá Braz! ¾ Estou ao largo de Albufeira a bordo do meu barco com o Floriano, à pesca de chocos e de lulas e já temos um balde bem aviado.
No dia seguinte (Sábado, dia 22 de Agosto) lá fomos para a “sardinhada” na antiga Casa do Faroleiro (por cima da Marina de Albufeira), hoje reconvertida numa interessante Associação denominada “CLUBE ESCOLA AMIZADE”, cujos responsáveis e associados são gente ligada ao mar; ex-alunos da Fragata D. Fernando II e Glória; ex-oficiais da Marinha de Guerra; ex-funcionários da Marinha Mercante e outros da Frota Bacalhoeira que rumava aos bancos pesqueiros da Groenlândia.
Devido a compromissos de alguns, não éramos muitos, mas o suficiente para fazermos daquele convívio uma forma de estreitarmos laços de amizade e revivermos momentos já idos, mas que não esquecemos porque fazem parte da nossa memória colectiva.
Como a minha filha Mafalda não quis ir (pois diz não ter paciência para ouvir “histórias de cotas”) fiz-me acompanhar pela Odília e por um casal amigo (Edgar e Celeste) que estavam de férias em Pedras d’el-rei, mas que se prontificaram a participar naquele convívio do qual saíram entusiasmados, apesar de nenhum deles ter qualquer vivência relacionada com a vida no mar.
Depois da “sardinhada” fizemos uma breve visita às instalações da Associação, que se pautava pela excelente organização do espaço. Desde uma pequena biblioteca, à vitrina de exposição dos troféus, à ornamentação das paredes com motivos alusivos ao mundo náutico.
No final da visita às instalações da Associação e ao seu pequeno Museu, eu e o Edgar (ambos da direcção da CACAV e embora não estivéssemos ali nessa qualidade) adquirimos uma “Cresta” com o símbolo da respectiva colectividade para ser exposta na nossa CASA AMARELA em Alhos Vedros, ficando a promessa de um dia (se tal for possível e em data a combinar) realizar-se um intercâmbio cultural entre o CLUBE ESCOLA AMIZADE de ALBUFEIRA e a CACAV. Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros.
Por ser uma pequena Associação e onde apenas alguns “carolas” se dedicam de uma forma entusiástica “à causa” (o que me faz recordar outras que conheço) o que mais me fascinou (para além do convívio) foi a preocupação daquela Associação em dedicar um pequeno espaço das suas instalações ao “Museu do Mar”.
Apesar do espaço exíguo, nele convivem pequenas memórias relacionadas com a vivência dos seus associados enquanto “lobos-do-mar”.
Redes de pesca; artefactos relacionados com a faina marítima; pequenos aparelhos de comunicação e de sinalização ou de detecção de cardumes em alto mar; miniaturas de embarcações das diversas artes de pesca, enfim: um pequeno museu onde se tenta preservar uma memória colectiva para que as novas gerações tenham ali um testemunho do que foi a vida de trabalho dos seus avós e pais, onde através deles se recordam momentos de felicidade, mas também de alguma tragédia pela perda de vidas tragadas pela “fúria dos mares” que, “zangados”, se abatiam contra as frágeis embarcações que acabavam por “adormecer” no fundo dos oceanos.
Fiquei de facto fascinado com aquele pequeno espaço museológico e da preocupação dos membros daquela pequena Associação que, sem recursos financeiros, tentam preservar um pouco daquilo que foi a memória colectiva de quem se dedicou à vida do mar, e da qual me tornei seu associado.
A partir deste exemplo, e aproveitando a “embalagem”, não compreendo como é que no concelho da Moita, mais concretamente em Alhos Vedros, localidades com maiores potencialidades financeiras (em relação a uma pequena Associação) e que outrora foram de forte implantação da actividade agrícola; das indústrias Corticeira e Confecções Têxteis, ainda não exista um núcleo museológico onde sejam expostos artefactos relacionados com aquelas indústrias, que seriam de facto de interesse público e um motivo para que as novas gerações vissem expostos utensílios e ferramentas (embora hoje ultrapassados pelas novas tecnologias) que fizeram parte do desenvolvimento industrial da região e que foram, debaixo de grande exploração patronal, o ganha-pão dos seus pais e avós.
Em relação a este último parágrafo, seria bom que os responsáveis autárquicos do concelho da Moita pensassem nisto, mas fora do período eleitoral, pois tudo o que se possa dizer neste período soa sempre a oco e nunca é concretizado, a exemplo de outras tantas promessas mas nunca cumpridas.

Carlos Vardasca (Braz, ex- aluno nº 14 - 1963-1968)
          28 de Agosto de 2015