Foi apenas com 12 anos de idade que em 01 de Abril de 1963 o Adolfo entrou para a Fragata D. Fernando II e Glória, sendo logo “carimbado” com o número 12, a exemplo do que ele já se habituara nos colégios por onde “vegetara”, carregando, tal como a maioria das crianças naquelas condições, o fardo da ausência dos afectos.
Em 03 de Abril do mesmo ano, com apenas três dias a bordo, também sobreviveu ao trágico incêndio que devorou aquela NAU, escola que dotou muitos dos alunos que por lá passaram das ferramentas fundamentais para se “fazerem à vida”, como dizia o velho sargento “Cachucho”.
Já em Setúbal, no edifício da então Capitania do Porto de Setúbal, onde os alunos da Fragata ficaram alojados, o Adolfo era um dos "meninos" por quem as miúdas daquela cidade se deslumbravam, fascinadas por aqueles olhos verdes que brilhavam numa face clara, fazendo lembrar uma personagem do filme “Laurençe da Arábia”.
Como era próprio da idade, das circunstâncias e do prestígio que os alunos da Fragata gozavam na altura, também ele “brincou aos namorados” com algumas daquelas meninas que se dizia na cidade que faltavam por vezes à escola para rondar o edifício da Capitania, na ânsia de conquistarem um “Fragata” (como era moda na altura) e o exibirem para as colegas da turma pelas ruas de Setúbal.
Não sei se o Adolfo se “deixou morrer de amores” por alguma delas ao ponto de se ter casado, mas o que é certo é que enquanto alguns de nós já navegávamos pelas costas de África, Norte da Europa ou pelos bancos gelados da Terra Nova, o rasto do Adolfo foi-se perdendo do nosso imaginário, descobrindo-se mais tarde que, depois de ter abandonado a Marinha Mercante, já sem objectivos e com a sua vida totalmente desorganizada, deambulava meio perdido pelas ruas de Setúbal, alimentando-se dos favores das “Caritas”, andando perdido pelos recantos escuros do Bairro da Bela Vista.
O ano passado, tentámos saber do seu paradeiro para o convidarmos para passar connosco o dia 18 de Setembro de 2010 no III Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória, que se realizou em Setúbal, tendo alguns de nós manifestado a intenção de lhe prestar algum apoio para minimizar o seu sofrimento.
Um dos nossos companheiros, o “Alegria”, ficou incumbido de estabelecer o contacto com o Adolfo (tal como com o “06” que parecia estar nas mesmas condições) para se juntar a nós naquele dia, deslocando-se às instalações das “Caritas de Setúbal” para o informar da organização do evento, quando uma das funcionárias lhe disse que o Adolfo já tinha falecido há cerca de dois meses.
A vida sempre foi muito ingrata para com aqueles que mais sofrem e, agora que nos preparava-mos para lhe prestar o auxílio que decerto não seria ainda o desejável, é que a morte lhe bateu à porta, precisamente àquele “menino” de olhos verdes que, por entre os intervalos das incertezas da vida, bastas vezes se lembrou de que na sua juventude os seus olhos fascinaram as miúdas do seu tempo que o fizeram ignorar a palavra solidão, um tempo tão efémero, como foi efémera a sua existência neste mundo tão injusto e tão desigual, que não se importa de atirar para a berma da vida aqueles que julga inúteis, os mais frágeis, a quem é imposta uma caridadezinha sem perspectivas de construção de um futuro sólido.
Na impossibilidade de nada mais podermos fazer, aqui fica a homenagem de todos os Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória ao Adolfo, o tal “menino de olhos verdes” que numa “tempestade” perdeu o rumo da sua “navegação” em alto mar, e veio aportar num porto sem-abrigo que o fez “perder o norte à vida”.
Carlos Vardasca
Em 03 de Abril do mesmo ano, com apenas três dias a bordo, também sobreviveu ao trágico incêndio que devorou aquela NAU, escola que dotou muitos dos alunos que por lá passaram das ferramentas fundamentais para se “fazerem à vida”, como dizia o velho sargento “Cachucho”.
Já em Setúbal, no edifício da então Capitania do Porto de Setúbal, onde os alunos da Fragata ficaram alojados, o Adolfo era um dos "meninos" por quem as miúdas daquela cidade se deslumbravam, fascinadas por aqueles olhos verdes que brilhavam numa face clara, fazendo lembrar uma personagem do filme “Laurençe da Arábia”.
Como era próprio da idade, das circunstâncias e do prestígio que os alunos da Fragata gozavam na altura, também ele “brincou aos namorados” com algumas daquelas meninas que se dizia na cidade que faltavam por vezes à escola para rondar o edifício da Capitania, na ânsia de conquistarem um “Fragata” (como era moda na altura) e o exibirem para as colegas da turma pelas ruas de Setúbal.
Não sei se o Adolfo se “deixou morrer de amores” por alguma delas ao ponto de se ter casado, mas o que é certo é que enquanto alguns de nós já navegávamos pelas costas de África, Norte da Europa ou pelos bancos gelados da Terra Nova, o rasto do Adolfo foi-se perdendo do nosso imaginário, descobrindo-se mais tarde que, depois de ter abandonado a Marinha Mercante, já sem objectivos e com a sua vida totalmente desorganizada, deambulava meio perdido pelas ruas de Setúbal, alimentando-se dos favores das “Caritas”, andando perdido pelos recantos escuros do Bairro da Bela Vista.
O ano passado, tentámos saber do seu paradeiro para o convidarmos para passar connosco o dia 18 de Setembro de 2010 no III Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória, que se realizou em Setúbal, tendo alguns de nós manifestado a intenção de lhe prestar algum apoio para minimizar o seu sofrimento.
Um dos nossos companheiros, o “Alegria”, ficou incumbido de estabelecer o contacto com o Adolfo (tal como com o “06” que parecia estar nas mesmas condições) para se juntar a nós naquele dia, deslocando-se às instalações das “Caritas de Setúbal” para o informar da organização do evento, quando uma das funcionárias lhe disse que o Adolfo já tinha falecido há cerca de dois meses.
A vida sempre foi muito ingrata para com aqueles que mais sofrem e, agora que nos preparava-mos para lhe prestar o auxílio que decerto não seria ainda o desejável, é que a morte lhe bateu à porta, precisamente àquele “menino” de olhos verdes que, por entre os intervalos das incertezas da vida, bastas vezes se lembrou de que na sua juventude os seus olhos fascinaram as miúdas do seu tempo que o fizeram ignorar a palavra solidão, um tempo tão efémero, como foi efémera a sua existência neste mundo tão injusto e tão desigual, que não se importa de atirar para a berma da vida aqueles que julga inúteis, os mais frágeis, a quem é imposta uma caridadezinha sem perspectivas de construção de um futuro sólido.
Na impossibilidade de nada mais podermos fazer, aqui fica a homenagem de todos os Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória ao Adolfo, o tal “menino de olhos verdes” que numa “tempestade” perdeu o rumo da sua “navegação” em alto mar, e veio aportar num porto sem-abrigo que o fez “perder o norte à vida”.
Carlos Vardasca
(Braz, ex-Aluno nº 14)
18 de Fevereiro de 2011
Foto: O Augusto (“Torta”) e o Adolfo (do lado direito da foto) na Avenida Luísa Tody em Setúbal.
18 de Fevereiro de 2011
Foto: O Augusto (“Torta”) e o Adolfo (do lado direito da foto) na Avenida Luísa Tody em Setúbal.
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