terça-feira, 27 de abril de 2010

O "Gorila". Mais um Fragata que "deu à costa"

Foto tirada a bordo da Fragata. Na foto podem ver-se o "Gorila" (que gentilmente me enviou a foto e que está assinalado com uma pequena cruz no panamá, e foto em destaque) o Serafim, Lua (com a língua de fora) Lula (já falecido), Lafaia e Nazaré (em cima a apontar o dedo), entre outros. Fragata D. Fernando II e Glória. Lisboa 1955.
(...) A Fragata "D. Fernando II e Glória", o último grande navio à vela da Marinha Portuguesa e também a última "Nau" a fazer a chamada "Carreira da Índia" – verdadeira linha militar regular que, desde o século XVI e durante mais de 3 séculos, fez a ligação entre Portugal e aquela antiga colónia – foi o último grande navio que os estaleiros do antigo Arsenal Real de Marinha de Damão construíram para a nossa Marinha. A Fragata recebeu o nome de "D.Fernando II e Glória", não só em homenagem a D. Fernando Saxe Coburgo Gota, marido da Rainha D.Maria II, mas também por ter sido entregue à protecção de Nossa Senhora da Glória, de especial devoção entre os goeses. O navio embora construído pelos planos duma fragata de 50 peças, foi de início preparado para receber 60 bocas de fogo, tendo em 1863-1865 sido transformado para receber só 50, 22 no convés e 28 na bateria. A lotação do navio variava consoante a missão a desempenhar, indo do mínimo de 145 homens na viagem inaugural ao máximo de 379 numa viagem de representação. A Fragata tinha boas qualidades náuticas e de habitabilidade, designadamente no que se refere a desafogo das instalações, aspecto este de suma importância numa época em que ainda se faziam viagens, sem escala, de 3 meses, com 650 pessoas a bordo, incluindo passageiros. A viagem inaugural, de Goa para Lisboa, teve lugar em 1845, com largada em 2 de Fevereiro e chegada ao Tejo, em 4 de Julho. Desde então, foi utilizada em missões de vários tipos até Setembro de 1865, data em que substituiu a Nau Vasco da Gama, como Escola de Artilharia, tendo ainda, em 1878, efectuado uma viagem de instrução de Guarda-Marinhas aos Açores, que foi a sua última missão no mar, onde teve a oportunidade de salvar a tripulação da barca americana "Laurence Boston" que se incendiara. Durante os 33 anos em que navegou, percorrendo cerca de 100 mil milhas, correspondentes a quase 5 voltas ao Mundo, a "D.Fernando", como era conhecida, provou ser um navio resistente e de grande utilidade, tendo efectuado numerosas viagens à Índia, a Moçambique e a Angola para levar àqueles antigos territórios portugueses unidades militares do Exército e da Marinha ou colonos e degredados, estes últimos normalmente acompanhados de familiares. Chegou até a levar emigrados políticos espanhóis para os Açores. De entre as missões que lhe foram confiadas, destacam-se a participação como navio-chefe de uma força naval na ocupação de Ambriz, em Angola, que em 1855 se revoltara por instigação da Inglaterra, e, ainda, a colaboração na colonização de Huíla em que, como navio de guerra, teve a insólita e curiosa missão de transportar ovelhas, cavalos e éguas do Cabo da Boa Esperança para Moçâmedes (Angola), numa real missão de serviço público. Colaborou, ainda, com o grande sertanejo António Silva Porto, transportando, em 1855, os seus 13 pombeiros da ilha de Moçambique para Benguela, depois destes terem completado a travessia de África, de Benguela à costa de Moçambique. Em 1889 sofreu profundas alterações para melhor servir como Escola de Artilharia Naval, substituindo-se a antiga e airosa mastreação por três deselegantes mastros inteiriços, com vergas de sinais e construindo-se dois redutos a cada bordo para colocação de peças de artilharia modernas, para instrução, utilização que cessou em 1938. Em 1940, não estando já em condições de ser utilizada pela Marinha, iniciou uma nova fase da sua vida, passando a servir como sede da "Obra Social da Fragata D. Fernando II e Glória", criada para recolher rapazes oriundos de famílias de fracos recursos económicos, que ali recebiam instrução escolar e treino de marinharia, até que, em 1963, um violento incêndio a destruiu em grande parte (...)
José Moreira Alves
Ex-Aluno nº 182 da Fragata D. Fernando II e Glória
"O GORILA" (1955)
Barreiro, 25/01/2009

Nota: Este texto foi editado por José Moreira Alves ("Gorila") no blogue "Marinha e Fuzocultura".

quarta-feira, 21 de abril de 2010

"Quem é que me ajuda a encontrar o "Tarzan"?

Notícia sobre José Manuel Lopes ("Tarzan" ou "Caminha"), editada no jornal "Correio da Manhã" de Terça-feira, dia 08 de Junho de 2004.

(...) depois de deambular e de me sentir "amuralhado" por entre os vários colégios onde fui colocado desde os 4 anos de idade, aos 13 anos, e porque talvez não tivesse lá muita inclinação para os estudos mas para as artes de bem marear, fui enviado no dia 01 de Abril de 1963 para a Fragata D. Fernando II e Glória, velha nau, última, vinda das Índias e que ancorada no Tejo servia de navio escola para aqueles meninos desprovidos de afectos e do aconchego familiar. No dia 03 de Abril de 1963 aquela nau foi vítima de um violento incêndio, que a destruiu totalmente e a atirou para um banco de areia, onde ali permaneceu longos anos até à sua recuperação, que lhe permitiu servir de bilhete-postal na "EXPO 98".

Naquele dia trágico, muitos miúdos (onde eu me incluía) refugiaram-se das labaredas dentro de uma das últimas baleeiras que ainda estavam penduradas, esperando que alguém a arreasse. Como o sistema não funcionou por estar corroído pela ferrugem, houve alguém que, num acto de desespero, arreou apenas um dos lados da baleeira ficando esta repentinamente suspensa de um dos lados, atirando para as águas revoltas do Tejo todos os seus ocupantes. Por lá estar há apenas 3 dias e ainda não ter frequentado as aulas de natação, eu ainda não sabia nadar o suficiente para me livrar daquele mergulho involuntário. Várias vezes me senti "nas profundezas de um oceano repleto de monstros" até que, inesperadamente, me senti agarrado por uns braços fortes que mais pareciam "tentáculos de um polvo gigante", que me retiraram da água e me puxaram para bordo de um pequeno barco de pescadores, onde me foram prestados os primeiros socorros. Aqueles "tentáculos" eram os braços do José Manuel Lopes, aluno mais velho (de alcunha "o Caminha", mas também conhecido por "Tarzan" devido ao seu corpo atlético e por se balançar com alguma desenvoltura no cordame dos mastros) que se atirou ao Tejo e salvou muitos dos seus companheiros, cujo acto de coragem lhe valeu o reconhecimento da Marinha de Guerra e o consideraram um herói nacional.
Actualmente (e soube-o em tempos por uma notícia vinda no "Correio da Manhã") o "Tarzan" é um dos imensos sem abrigo que deambulam pelas ruas de Lisboa, onde mendiga algumas migalhas que lhe servem de sustento. Como em tudo na vida deste país, os heróis facilmente são esquecidos, para darem (de quando em vez) lugar a uma pequena manchete para preencher o lado emocional dos seus leitores.
Ao longo desta "estrada já percorrida", tenho sofrido alguns contra-tempos que já colocaram por várias vezes em dúvida o prosseguimento da minha existência. Aquele acto, talvez por ter ocorrido na minha infância, me marcou decisivamente ao ponto de já ter efectuado vários contactos (embora sem êxito) para encontrar o "Tarzan", prestar-lhe uma justa e simbólica homenagem e contribuir, na medida das minhas possibilidades, para que tenha uns momentos de menor dificuldade (...)
Quem é que se lembra dele e me ajuda a encontrar o "Tarzan"?

Carlos Vardasca
O Braz, ex-Aluno nº 14 da Fragata D. Fernando II e Glória (1963)
Nota: Texto escrito no Blogue "Do Tejo ao Rovuma", em 03 de Junho de 2007.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Legalização da Associação dos Antigos Alunos da Obra Social da Fragata D. Fernando II e Glória

Documento do 1º Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Obra Social da Fragata D. Fernando II e Glória, realizado no Seixal no dia 08 de Junho de 1997.
Documento de pedido de legalização da Associação dos Antigos Alunos da Obra Social da Fragata D. Fernando II e Glória, em 27 de Março de 1998 no Ministério da Justiça. Registo Nacional de Pessoas Colectivas.
Andava eu a "vasculhar" nos meus documentos que tenho o hábito de guardar, embora por vezes nem saiba o que fazer com eles, e eis que dou com um (diga-se de passagem muito estranho mas deveras interessante) que se relaciona com o pedido de legalização da Associação dos Antigos Alunos da Obra Social da Fragata D. Fernando II e Glória.
Eu recordo-me que no 1º Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Obra Social da Fragata D. Fernando II e Glória realizado no Seixal no dia 08 de Junho de 1997, se formalizou essa intenção, sendo um dos pontos do programa desse dia, mas o que fiquei agora a saber, com a descoberta deste documento, é que essa Associação foi mesmo legalizada (ou pedida a sua legalização) estando registada no Ministério da Justiça, mais concretamente no Registo Nacional de Pessoas Colectivas, no dia 27 de Março de 1998.
O referido documento está assinado por um ex-aluno da Fragata, o Luís Frederico dos Santos, que na altura da reconstrução da Fragata foi um elemento muito activo na organização de eventos e encontros de ex-alunos, com o objectivo de dar corpo à Associação que na prática não se materializou.
E porque nunca mais se soube do seu paradeiro (o que é pena) penso que teremos que ser nós (e perante a descoberta deste documento) os que ainda vamos mantendo contactos regulares, a "agarrar nesta bandeira e levantá-la bem lá no topo do cesto da Gávea", e tentar dar forma e uma das aspirações de todos quantos passaram por aquela "Velha Nau".
Irá de facto ser uma das tarefas em que me irei empenhar no esclarecimento desta situação, embora de momento se considere prioritário o tentar encontrar o maior número de ex-alunos e com eles estabelecer os contactos necessários para a elaboração de uma listagem, e em breve, de acordo com a disponibilidade de cada um, organizar um almoço de confraternização para reatarmos e estreitarmos os nossos laços de amizade e, porque não, falarmos todos sobre o que fazer com a questão relacionada com a nossa Associação e da sua viabilidade.

Carlos Vardasca
O Braz, ex-aluno nº 14 da Fragata D. Fernando II e Glória (1963)

sábado, 17 de abril de 2010

Histórias irrequietas da nossa juventude

Este pequeno episódio nada tem a ver com a Guerra Colonial, no entanto, e porque são retalhos de uma juventude um pouco irrequieta cuja memória não deve ser apagada, aqui o partilho como forma de se avaliar a leviandade vivida por alguns jovens nos dias conturbados da década de 60.
Quando os seus alunos após a conclusão das várias especialidades estavam prestes a ingressar na Marinha Mercante, na Marinha de Guerra ou na frota pesqueira, a Fragata D. Fernando II e Glória proporcionava estágios de formação aos seus alunos a bordo de um dos navios da armada portuguesa (como foi o meu caso) que na altura estivesse prestes a efectuar alguma viagem, fosse em patrulha ou em escala para outros portos da Europa.
Como a Canhoneira "DIU" estava escalada para se deslocar em viagem ao porto de Toulon (França) transportando a bordo barcos de competição à vela da Legião Portuguesa que iam participar num torneio internacional, eu e o "98" (Nascimento), alunos da Fragata D.Fernando II e Glória, fomos incorporados na sua tripulação e aí prestar alguns serviços de forma a adquirir experiência para quando ingressássemos na Marinha Mercante.
A "velha canhoneira" construída no Arsenal do Alfeite em 1929, mais parecia uma peça de museu, se comparada com alguns dos modernos navios da 7ª Esquadra do Mediterrâneo dos EUA quando ancorámos no porto de Cartagena em Espanha. Ao retomarmos a viagem rumo a Toulon, previa-se um grande temporal no Golfo de Lion e, por esse facto, aquela esquadra não se fez ao mar, causando estranheza e até alguma chacota no seio dos marinheiros dos navios de guerra ali ancorados que a Canhoneira "DIU" o fizesse, tendo em conta o seu aspecto frágil que diziam não resistir ao enfrentar o mau estado do mar. O que é certo, e apesar de ferozmente fustigada pela forte ondulação que se abateu sobre o convés e salpicava a torre de comando durante toda a viagem, a "DIU" entrou na Base Naval de Toulon sem qualquer "beliscadura" na sua estrutura, parecendo quase impossível como é que aquela "velha carcaça" escapara ao temporal que se levantou no Golfo de Lion, enquanto os modernos navios da esquadra dos EUA se resguardavam nos vários portos do Mediterrâneo.
Foi em Toulon que conheci John Walker, natural de Norfolk, marinheiro do U.S.S. "Pocono" (navio de apoio da marinha de guerra dos EUA - vulgarmente conhecido como navio espião) também ancorado naquela Base naval francesa, e que, numa das visitas que eu e o "98" fizemos ao seu navio e como forma de ficarmos com uma recordação daquele dia, de uma forma irresponsável, próprio da idade e sem pensarmos nas consequências, trocámos as nossas fardas com dois dos marinheiros americanos, entre eles o John Walker.
De regresso à minúscula "DIU", ancorada na outra extremidade do cais junto ao enorme "Jeanne D'Arc" (Porta Helicópteros da marinha de guerra francesa) e quando a noite há muito se tinha abatido sobre aquela base naval, ao tentarmos entrar para a Canhoneira sem sermos vistos com aquelas fardas estranhas, fomos inesperadamente abordados por um dos seus sentinelas que nos barrou a entrada no navio pois confundiu-nos com marinheiros americanos. Quando nos reconheceu e se apercebeu da gravidade da situação, aconselhou-nos a que nos dirigíssemos aos nossos camarotes e nos despíssemos com a maior urgência, não fosse algum oficial dar conta do ocorrido e aquela aventura assumir outros contornos que decerto nos seriam bastante prejudiciais (...)
Este é o meu contributo. Se alguns de vós tem algo que ache interessante partilhar, então fica aqui o desafio, porque considero que é sempre bom recordar os momentos mais fascinantes (ou não) da nossa juventude.

Carlos Vardasca
O Braz, ex-Aluno nº 14 da Fragata D. Fernando II e Glória (1963)
Texto escrito em 25 de Outubro de 2008 no Blogue "Do Tejo ao Rovuma"
Foto 1: Canhoneira "DIU" à entrada do porto de Leixões nos anos 50. (Fotomar)
Fotos 2 e 3: Na primeira estou com o "panamá" na companhia do "98" (Nascimento) e foto em destaque. Na segunda, a bordo da Canhoneira "DIU" à saída do porto de Cartagena. Espanha 1967. Na mesma foto ainda se podem ver no lado direito, empilhados e tapados com lonas, os barcos que iam participar na regata em Toulon.
Foto 4: U.S.S. Pocono.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

"E do nevoeiro vão surgindo mais Fragatas"

O Braz (14) e o "Eusébio". Setúbal
O Augusto (Torta) e o Lages na Avenida Luisa Tody. Setúbal
Augusto (Torta), "Alvor" e Alegria na Praça do Comércio. Lisboa
Augusto (Torta) e o Adolfo. Setúbal
Já há bastante tempo que não subia ao "Cesto da Gávea" para escrever mais umas letrinhas sobre nós.
Quando em 2008 iniciei esta "cruzada" de tentar encontrar outros ex-alunos da FRAGATA D. FERNANDO II E GLÓRIA, sempre pensei que seria uma tarefa gorada ao fracasso, uma vez que a faixa etária de muitos de nós (que estavam na Fragata no dia do seu incêndio) andará por volta dos sessenta e tal anos, e considerar eu, não ser lá muito vulgar nestas idades haver quem se ocupe destas coisas da Internet e, por esse facto, não serem lá muito sensíveis na procura de ex-companheiros por via destas "modernissses".
De facto, enganei-me. Embora muito lentamente, os apelos lá se foram ouvindo e o número de contactos tem vindo a aumentar (já somos 23) e a "coisa parece estar a compor-se".
Com a ajuda do "35" (Joaquim Freitas) que me deu o contacto do Reis (funcionário do Sindicato da Mestrança e Marinhagem de Câmaras da Marinha Mercante) à listagem de contactos de que já dispunha juntaram-se mais 10 ex-alunos cedidos por aquele funcionário, aos quais tenho vindo a contactar para tentar reatar os laços de camaradagem que nos uniram naquela velha NAU.
Mais recentemente surgiu o "Torta" (Augusto Fernando Gomes) que me telefonou, e com o qual tenho vindo a contactar com alguma frequência com o envio de e-mails.
Com esta pujança que vai dando corpo ao aparecimento de mais ex-alunos da FRAGATA, o objectivo a que nos propusemos de início mantém-se cada vez mais actual, ou seja, organizar-mos (numa data e num local que seja acessível a todos) um Encontro Nacional de ex-Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória.
Por esse facto, apelo de novo a todos os que já colocaram (ou venham a colocar) comentários no "Cesto da Gávea" (desde o "Ambulância" ao "Cachucho" passando pelo Figueiras etc...) que o façam de novo mas acrescentando os seus contactos, para assim dessa forma puderem fazer parte desta grande lista de "Putos da Briosa" que irá crescer "até onde nós quisermos".
Dos contactos recentemente adquiridos, foram-me enviadas algumas fotos (pelo Joaquim Freitas e Augusto Gomes, o "Torta") que partilho com todos vós, com o objectivo de vos aguçar a curiosidade com a tentativa de reconhecimento de alguns de nós passados tantos anos, mas também fazer aumentar a vontade de nos reencontrar-mos, e recordarmos os nossos tempos de meninos que naquela "NAU" nos fizemos homens.
Ora então vejam lá se reconhecem alguns deles.

Carlos Vardasca
O Braz, ex-aluno nº 14 da Fragata D. Fernando II e Glória (1963)