Este pequeno episódio nada tem a ver com a Guerra Colonial, no entanto, e porque são retalhos de uma juventude um pouco irrequieta cuja memória não deve ser apagada, aqui o partilho como forma de se avaliar a leviandade vivida por alguns jovens nos dias conturbados da década de 60.
Quando os seus alunos após a conclusão das várias especialidades estavam prestes a ingressar na Marinha Mercante, na Marinha de Guerra ou na frota pesqueira, a Fragata D. Fernando II e Glória proporcionava estágios de formação aos seus alunos a bordo de um dos navios da armada portuguesa (como foi o meu caso) que na altura estivesse prestes a efectuar alguma viagem, fosse em patrulha ou em escala para outros portos da Europa.
Como a Canhoneira "DIU" estava escalada para se deslocar em viagem ao porto de Toulon (França) transportando a bordo barcos de competição à vela da Legião Portuguesa que iam participar num torneio internacional, eu e o "98" (Nascimento), alunos da Fragata D.Fernando II e Glória, fomos incorporados na sua tripulação e aí prestar alguns serviços de forma a adquirir experiência para quando ingressássemos na Marinha Mercante.
A "velha canhoneira" construída no Arsenal do Alfeite em 1929, mais parecia uma peça de museu, se comparada com alguns dos modernos navios da 7ª Esquadra do Mediterrâneo dos EUA quando ancorámos no porto de Cartagena em Espanha. Ao retomarmos a viagem rumo a Toulon, previa-se um grande temporal no Golfo de Lion e, por esse facto, aquela esquadra não se fez ao mar, causando estranheza e até alguma chacota no seio dos marinheiros dos navios de guerra ali ancorados que a Canhoneira "DIU" o fizesse, tendo em conta o seu aspecto frágil que diziam não resistir ao enfrentar o mau estado do mar. O que é certo, e apesar de ferozmente fustigada pela forte ondulação que se abateu sobre o convés e salpicava a torre de comando durante toda a viagem, a "DIU" entrou na Base Naval de Toulon sem qualquer "beliscadura" na sua estrutura, parecendo quase impossível como é que aquela "velha carcaça" escapara ao temporal que se levantou no Golfo de Lion, enquanto os modernos navios da esquadra dos EUA se resguardavam nos vários portos do Mediterrâneo.
Foi em Toulon que conheci John Walker, natural de Norfolk, marinheiro do U.S.S. "Pocono" (navio de apoio da marinha de guerra dos EUA - vulgarmente conhecido como navio espião) também ancorado naquela Base naval francesa, e que, numa das visitas que eu e o "98" fizemos ao seu navio e como forma de ficarmos com uma recordação daquele dia, de uma forma irresponsável, próprio da idade e sem pensarmos nas consequências, trocámos as nossas fardas com dois dos marinheiros americanos, entre eles o John Walker.
De regresso à minúscula "DIU", ancorada na outra extremidade do cais junto ao enorme "Jeanne D'Arc" (Porta Helicópteros da marinha de guerra francesa) e quando a noite há muito se tinha abatido sobre aquela base naval, ao tentarmos entrar para a Canhoneira sem sermos vistos com aquelas fardas estranhas, fomos inesperadamente abordados por um dos seus sentinelas que nos barrou a entrada no navio pois confundiu-nos com marinheiros americanos. Quando nos reconheceu e se apercebeu da gravidade da situação, aconselhou-nos a que nos dirigíssemos aos nossos camarotes e nos despíssemos com a maior urgência, não fosse algum oficial dar conta do ocorrido e aquela aventura assumir outros contornos que decerto nos seriam bastante prejudiciais (...)
Quando os seus alunos após a conclusão das várias especialidades estavam prestes a ingressar na Marinha Mercante, na Marinha de Guerra ou na frota pesqueira, a Fragata D. Fernando II e Glória proporcionava estágios de formação aos seus alunos a bordo de um dos navios da armada portuguesa (como foi o meu caso) que na altura estivesse prestes a efectuar alguma viagem, fosse em patrulha ou em escala para outros portos da Europa.
Como a Canhoneira "DIU" estava escalada para se deslocar em viagem ao porto de Toulon (França) transportando a bordo barcos de competição à vela da Legião Portuguesa que iam participar num torneio internacional, eu e o "98" (Nascimento), alunos da Fragata D.Fernando II e Glória, fomos incorporados na sua tripulação e aí prestar alguns serviços de forma a adquirir experiência para quando ingressássemos na Marinha Mercante.
A "velha canhoneira" construída no Arsenal do Alfeite em 1929, mais parecia uma peça de museu, se comparada com alguns dos modernos navios da 7ª Esquadra do Mediterrâneo dos EUA quando ancorámos no porto de Cartagena em Espanha. Ao retomarmos a viagem rumo a Toulon, previa-se um grande temporal no Golfo de Lion e, por esse facto, aquela esquadra não se fez ao mar, causando estranheza e até alguma chacota no seio dos marinheiros dos navios de guerra ali ancorados que a Canhoneira "DIU" o fizesse, tendo em conta o seu aspecto frágil que diziam não resistir ao enfrentar o mau estado do mar. O que é certo, e apesar de ferozmente fustigada pela forte ondulação que se abateu sobre o convés e salpicava a torre de comando durante toda a viagem, a "DIU" entrou na Base Naval de Toulon sem qualquer "beliscadura" na sua estrutura, parecendo quase impossível como é que aquela "velha carcaça" escapara ao temporal que se levantou no Golfo de Lion, enquanto os modernos navios da esquadra dos EUA se resguardavam nos vários portos do Mediterrâneo.
Foi em Toulon que conheci John Walker, natural de Norfolk, marinheiro do U.S.S. "Pocono" (navio de apoio da marinha de guerra dos EUA - vulgarmente conhecido como navio espião) também ancorado naquela Base naval francesa, e que, numa das visitas que eu e o "98" fizemos ao seu navio e como forma de ficarmos com uma recordação daquele dia, de uma forma irresponsável, próprio da idade e sem pensarmos nas consequências, trocámos as nossas fardas com dois dos marinheiros americanos, entre eles o John Walker.
De regresso à minúscula "DIU", ancorada na outra extremidade do cais junto ao enorme "Jeanne D'Arc" (Porta Helicópteros da marinha de guerra francesa) e quando a noite há muito se tinha abatido sobre aquela base naval, ao tentarmos entrar para a Canhoneira sem sermos vistos com aquelas fardas estranhas, fomos inesperadamente abordados por um dos seus sentinelas que nos barrou a entrada no navio pois confundiu-nos com marinheiros americanos. Quando nos reconheceu e se apercebeu da gravidade da situação, aconselhou-nos a que nos dirigíssemos aos nossos camarotes e nos despíssemos com a maior urgência, não fosse algum oficial dar conta do ocorrido e aquela aventura assumir outros contornos que decerto nos seriam bastante prejudiciais (...)
Este é o meu contributo. Se alguns de vós tem algo que ache interessante partilhar, então fica aqui o desafio, porque considero que é sempre bom recordar os momentos mais fascinantes (ou não) da nossa juventude.
Carlos Vardasca
Carlos Vardasca
O Braz, ex-Aluno nº 14 da Fragata D. Fernando II e Glória (1963)
Texto escrito em 25 de Outubro de 2008 no Blogue "Do Tejo ao Rovuma"
Foto 1: Canhoneira "DIU" à entrada do porto de Leixões nos anos 50. (Fotomar)
Fotos 2 e 3: Na primeira estou com o "panamá" na companhia do "98" (Nascimento) e foto em destaque. Na segunda, a bordo da Canhoneira "DIU" à saída do porto de Cartagena. Espanha 1967. Na mesma foto ainda se podem ver no lado direito, empilhados e tapados com lonas, os barcos que iam participar na regata em Toulon.
Foto 4: U.S.S. Pocono.
Foto 1: Canhoneira "DIU" à entrada do porto de Leixões nos anos 50. (Fotomar)
Fotos 2 e 3: Na primeira estou com o "panamá" na companhia do "98" (Nascimento) e foto em destaque. Na segunda, a bordo da Canhoneira "DIU" à saída do porto de Cartagena. Espanha 1967. Na mesma foto ainda se podem ver no lado direito, empilhados e tapados com lonas, os barcos que iam participar na regata em Toulon.
Foto 4: U.S.S. Pocono.
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