Notícia sobre José Manuel Lopes ("Tarzan" ou "Caminha"), editada no jornal "Correio da Manhã" de Terça-feira, dia 08 de Junho de 2004.
(...) depois de deambular e de me sentir "amuralhado" por entre os vários colégios onde fui colocado desde os 4 anos de idade, aos 13 anos, e porque talvez não tivesse lá muita inclinação para os estudos mas para as artes de bem marear, fui enviado no dia 01 de Abril de 1963 para a Fragata D. Fernando II e Glória, velha nau, última, vinda das Índias e que ancorada no Tejo servia de navio escola para aqueles meninos desprovidos de afectos e do aconchego familiar. No dia 03 de Abril de 1963 aquela nau foi vítima de um violento incêndio, que a destruiu totalmente e a atirou para um banco de areia, onde ali permaneceu longos anos até à sua recuperação, que lhe permitiu servir de bilhete-postal na "EXPO 98".
Naquele dia trágico, muitos miúdos (onde eu me incluía) refugiaram-se das labaredas dentro de uma das últimas baleeiras que ainda estavam penduradas, esperando que alguém a arreasse. Como o sistema não funcionou por estar corroído pela ferrugem, houve alguém que, num acto de desespero, arreou apenas um dos lados da baleeira ficando esta repentinamente suspensa de um dos lados, atirando para as águas revoltas do Tejo todos os seus ocupantes. Por lá estar há apenas 3 dias e ainda não ter frequentado as aulas de natação, eu ainda não sabia nadar o suficiente para me livrar daquele mergulho involuntário. Várias vezes me senti "nas profundezas de um oceano repleto de monstros" até que, inesperadamente, me senti agarrado por uns braços fortes que mais pareciam "tentáculos de um polvo gigante", que me retiraram da água e me puxaram para bordo de um pequeno barco de pescadores, onde me foram prestados os primeiros socorros. Aqueles "tentáculos" eram os braços do José Manuel Lopes, aluno mais velho (de alcunha "o Caminha", mas também conhecido por "Tarzan" devido ao seu corpo atlético e por se balançar com alguma desenvoltura no cordame dos mastros) que se atirou ao Tejo e salvou muitos dos seus companheiros, cujo acto de coragem lhe valeu o reconhecimento da Marinha de Guerra e o consideraram um herói nacional.
Actualmente (e soube-o em tempos por uma notícia vinda no "Correio da Manhã") o "Tarzan" é um dos imensos sem abrigo que deambulam pelas ruas de Lisboa, onde mendiga algumas migalhas que lhe servem de sustento. Como em tudo na vida deste país, os heróis facilmente são esquecidos, para darem (de quando em vez) lugar a uma pequena manchete para preencher o lado emocional dos seus leitores.
Naquele dia trágico, muitos miúdos (onde eu me incluía) refugiaram-se das labaredas dentro de uma das últimas baleeiras que ainda estavam penduradas, esperando que alguém a arreasse. Como o sistema não funcionou por estar corroído pela ferrugem, houve alguém que, num acto de desespero, arreou apenas um dos lados da baleeira ficando esta repentinamente suspensa de um dos lados, atirando para as águas revoltas do Tejo todos os seus ocupantes. Por lá estar há apenas 3 dias e ainda não ter frequentado as aulas de natação, eu ainda não sabia nadar o suficiente para me livrar daquele mergulho involuntário. Várias vezes me senti "nas profundezas de um oceano repleto de monstros" até que, inesperadamente, me senti agarrado por uns braços fortes que mais pareciam "tentáculos de um polvo gigante", que me retiraram da água e me puxaram para bordo de um pequeno barco de pescadores, onde me foram prestados os primeiros socorros. Aqueles "tentáculos" eram os braços do José Manuel Lopes, aluno mais velho (de alcunha "o Caminha", mas também conhecido por "Tarzan" devido ao seu corpo atlético e por se balançar com alguma desenvoltura no cordame dos mastros) que se atirou ao Tejo e salvou muitos dos seus companheiros, cujo acto de coragem lhe valeu o reconhecimento da Marinha de Guerra e o consideraram um herói nacional.
Actualmente (e soube-o em tempos por uma notícia vinda no "Correio da Manhã") o "Tarzan" é um dos imensos sem abrigo que deambulam pelas ruas de Lisboa, onde mendiga algumas migalhas que lhe servem de sustento. Como em tudo na vida deste país, os heróis facilmente são esquecidos, para darem (de quando em vez) lugar a uma pequena manchete para preencher o lado emocional dos seus leitores.
Ao longo desta "estrada já percorrida", tenho sofrido alguns contra-tempos que já colocaram por várias vezes em dúvida o prosseguimento da minha existência. Aquele acto, talvez por ter ocorrido na minha infância, me marcou decisivamente ao ponto de já ter efectuado vários contactos (embora sem êxito) para encontrar o "Tarzan", prestar-lhe uma justa e simbólica homenagem e contribuir, na medida das minhas possibilidades, para que tenha uns momentos de menor dificuldade (...)
Quem é que se lembra dele e me ajuda a encontrar o "Tarzan"?
Quem é que se lembra dele e me ajuda a encontrar o "Tarzan"?
Carlos Vardasca
O Braz, ex-Aluno nº 14 da Fragata D. Fernando II e Glória (1963)
Nota: Texto escrito no Blogue "Do Tejo ao Rovuma", em 03 de Junho de 2007.
Um comentário:
Amigo Vardasca,estou a admirar a tua coragem e apetência. Vamos proceder à chamadas de todos os "Fragateiros". Um bem haja!...
Um forte abraço
Zé Alves
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