sexta-feira, 11 de março de 2011

Memórias de um "Fragata"

O "Grifo", com a mãe e a irmã. Lagos 1957
Olá Filhos da Escola
Sou o “Grifo”, nº 244
Ex-Aluno da Mãe Fragata

O tempo voa, e a meninice nunca esquecemos dos tempos de outrora.
Achei imensa piada, pela divulgação do nosso colega onde relatava a apanha aos ratos com toucinho fumado e o castigo que apanhou.
Confirmo todo o relato, visto que também fiz o mesmo, mas não com toucinho fumado, mas sim com ratoeiras de madeira basculantes, onde os gajos entravam, tocavam no isco e a porta fechava-se automaticamente.
Chicoteado nunca fui, mas antes o fosse, pois o meu corpinho latino e ladino já estava habituado à merda da porrada.
De facto, quem apanhasse um rato, tinha direito a dois decilitros de vinho abençoado com água do rio Alviela; enfim. Uma vez com o mesmo rato ganhei quatro decilitros, e porquê? Pois… Em primeiro levei o rato atado pelo rabo ao oficial de dia e ganhei os tais dois decilitros, mandando-me jogá-lo ao mar, e em vez de o levar atado pelo rabo, fiz-lhe uma laçada ao pescoço, levando-o novamente ao oficial de dia, que me disse:
― Está bem, ganhaste quatro decilitros, mas tem cuidado.
Era o melhor oficial que nós tínhamos, o Sr. Tenente Morgado, e que Deus o abençoe se ainda for vivo, pois era um grande amigo da malta.
Fruta e vinho, sem apanhar ratos, era-nos só fornecido às Quintas e Domingos ao almoço. Havia porém, colegas que não gostavam de vinho e outros que detestavam a fruta, enfim; “cada gosto o seu paladar”… Trocava a fruta nosso vinho abençoado do rio Alviela, e quando sentia a cabeça zonza, ia dormir para a trincheira onde guardávamos as macas, ouvindo o meu posto transmissor da minha galena, e… sem pilhas. Acreditam? É verdade; Com uma caixinha de madeira, seis parafusos de cobre, um transístor pequeno, ibónito e dez metros de fio, fazíamos uma galena, sem pilhas ou energia eléctrica. E esta hem? Sabiam?
Quanto a castigos? Vamos lá ver se me recordo de alguns mas vou para os principais. Por ter sido apanhado a deitar doze batatas ao rio, estando de faxina, o Sr. António “Pantufas”, cozinheiro, denunciou-me ao Tenente Vinagre, pelo que fui castigado com a barra às costas, enquanto a nossa malta almoçava.
O “Pantufas” era um gorduchudo que na cozinha andava sempre descalço.
Porquê “Pantufas”? Tinha os pés muito achatados, que mais pareciam as patas de um elefante.
Também cheguei a carregar com a maca às costas, mas essa era macia, enquanto a barra fazia doer-me os meus ossos juvenis, pesando aproximadamente uns 30 quilos, ou mais.
Mais castigos teria a descrevê-los mas estou desconfiado que este bloco talvez não chegaria. E… por último, o que não é um castigo mas uma graça, porque de graça não tinha nada. O João Toureiro, é filho de Lagos e esteve na mesma altura comigo na Fragata. Para nadar não havia igual, pois chegou a atirar-se do mastro Grupêz (proa) e mais parecia uma gaivota.
Ele entretanto jogava à bola nos juvenis do Belenenses, como guarda-redes, pelo qual foi sempre um bom desportista.
Acontece porém que, ao regressar dos treinos vinha na última vedeta que largava na Doca da Marinha às 21,00 horas, e eu guardava-lhe a comidinha; o jantar que lhe pertencia no cacifo. Quando eram cachuchos com arroz de tomate, as baratas eram tantas que mal se via o prato; Enfim, a fome era negra, e o “Toureiro” enxotava-as com as mãos, e naquele pratinho já se foram as baratas, pois as mesmas desapareciam imediatamente, o cachucho e o arroz também entraram naquela barriguinha, e sem diarreias…”

António Marques dos Santos Grifo
Ex-Aluno nº 244 (1955-1959)

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