terça-feira, 18 de setembro de 2007

...era de facto uma belíssima nau.

Fragata D. Fernando II e Glória. Quadro a óleo pintado por Roger Chapelet
Todos nós, ao longo da nossa infância, fomos criando em nosso redor uma imagem à semelhança dos nossos heróis, mesmo que em batalhas nunca dantes travadas. Quantas vezes, à saída dos cinemas, e inflamados com a destreza do "rapaz" do filme, nos revíamos naquela personagem, e nos sentíamos tão capazes de aplicar aquela ficção que não se encaixava numa realidade que momentâneamente fingíamos desconhecer. Quando fui para a Fragata D. Fernando II e Glória tinha apenas 13 anos, e vivi um desses momentos, ao ficar tão fascinado com a beleza daquela nau, "última das Índias". Era uma criança que se imaginava num barco de piratas, pronto a travar outras tantas batalhas contra a pobreza que me fizera seu tripulante. Desde os canhões alinhados como se ainda espreitassem o inimigo, aos bacamartes e armas de todo o tipo que enfeitavam o seu interior, tudo me recordava a façanha dos corsários que sempre tentei imitar. Não fosse o seu comandante (Sr. Campos, Capitão de Mar e Guerra) interromper aquele sonho que se previa prolongar naquele primeiro dia a bordo, "até que o meu imaginário se dispersasse não sei por quantas ilhas à procura de um tesouro que não existia":
- Então rapaz! estás a gostar do teu primeiro dia a bordo?
Como muito envergonhado que era, em vez de lhe responder comecei a chorar. De imediato, senti-me envolvido por uns braços fortes que, pelo carinho e afecto que transmitiram, me fizeram esquecer a ausência do aconchego familiar, "como se a fita do filme se tivesse partido e a realidade recomeçasse nalgumas cenas mais à frente".
Foi assim desta forma que vivi o primeiro dia a bordo daquela velha Nau, feita Navio Escola para meninos deserdados de afectos, "mas feitos homens iguais a tantos outros, que mais tarde souberam moldar a vida com as ferramentas ali ensinadas".
Era de facto muito bela, e por isso ainda hoje me sinto órfão daquela nau.
Carlos Vardasca
O Braz, ex-Aluno nº 14 da Fragata D. Fernando II e Glória (1963)
18 de Setembro de 2007

Um comentário:

cachucho disse...

Olá,
Também sou um ex-aluno da Fragata. Conhecido por " Cachucho". Gostava de contactar com antigos colegas de meu tempo. Estive lá desde 1944-1954. Recordo de nomes como o
" Bacalhau"," Porto" e o
" Farinha".Recordo-me também de ir ao enterro do ~Presidente Carmona.