sábado, 21 de janeiro de 2012

Um pouco de história sobre a Fragata D. Fernando II e Glória (2)

(...) Mais uma fase se seguiu, após a Segunda Guerra Mundial, quando a bipolarização política mundial substituiu a ordem dos impérios. E uma quinta e última fase, em curso e ainda não baptizada, mas que não será, certamente, o "Fim da História" proposto por Francis Fukuyama, nasceu em 1989, com o fim do confronto Leste-Oeste. É porém, a terceira fase que interessa considerar, pois foi nesse período histórico que decorreu a vida operacional da Fragata D. Fernando II e Glória.
O interesse português pela exploração das terras sertanejas teria tido como ponto de partida a viagem do Doutor Francisco José de Lacerda e Almeida, governador dos Rios de Sena, que partiu de Tete em Julho de 1798 e atingiu a corte do Muata Cazembe, bem no interior do continente, onde morreu. Já com sucesso, mas pouco divulgada, foi a viagem do major Correia Monteiro e do capitão Pedroso Gamito, com 420 homens, também de Tete a Cazembe; não conseguindo ultrapassar o território deste chefe, Monteiro enviou um mensageiro com uma carta para o governador de Luanda, que só chegou ao seu destino sete anos depois - mas chegou.
Com a duração de um ano, esta expedição terminou em 1832, exactamente a data em que a Fragata D. Fernando II e Glória foi lançada à carreira, em Damão.
Muitas outras expedições se seguiram, num esforço corajoso e persistente, com o duplo objectivo de satisfazer a curiosidade científica e de proteger os direitos soberanos sobre terras que historicamente eram portuguesas.
António Francisco Ferreira da Silva Poto, na sua segunda viagem, encontrou Livingstone, em 1852, no ano em que a Fragata D. Fernando II e Glória realizou a sua primeira missão, a partir do porto de Lisboa. E foi ainda  Fragata que numa outra viagem, em 1854, recolheu em Moçambique 13 dos africanos de Silva Porto que haviam realizado a travessia e os trouxe de regresso a Benguela (...)
(...) Não se travaram combates navais, mas frequentemente as forças do Exército e da Marinha desembarcados tiveram necessidade de combater em terra, na defesa dos direitos soberanos portugueses. Era frequente e importante o transporte de homens e de material, razão pela qual quase todos os grandes navios de guerra alguma vez armaram em charrua.
Uma das raras operações iniciadas por uma acção naval foi a reocupação de toda a costa Norte de Angola, desde Ambriz até ao paralelo 5º 12' sul, e das margens do rio Zaire até às primeiras cataratas; a primeira fase ocorreu de 15 a 17 de Maio de 1855 e teve por navio-chefe a Fragata D. Fernando II e Glória (...)
(...) Em 1842, um ano antes do lançamento da Fragata à água, Portugual e a Ingalterra assinaram um tratado que punha fim à escravatura. É indiscutível o valor humano e social desta atitude, mas a sua aplicação não foi pacífica, apesar de Portugal já ter tomado a decisão unilateral da abolição da escravatura em 10 de Dezembro de 1836, com a publicação de um decreto de Sá da Bandeira nesse sentido.
Quando, em 20 de Novembro de 1857, se deu o arresto da barca francesa Charles et George, do comando do capitão Mathurin Rouxel, e que fora encontrada na baía de Condúcia, Moçambique, com 110 escravos, a Fragata D. Fernando II e Glória estava em Goa, numa das suas viagens pelo Índico (...) 

In: "D. Fernando II e Glória. A Fragata que nasceu das cinzas" (páginas 48, 49, 50 e 51) de António Emílio Ferraz Sacchetti. Edição dos CTT. 1998.

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