domingo, 25 de setembro de 2011

Encontro dos ex-Fragatas Joel e Augusto, ao fim de 47 anos.


Amigo Augusto,
Em 47 anos muita coisa passou pelas nossas vidas. Quando vamos em busca do encontro, mesmo depois de se ter falado durante um lapso de tempo(!?) sim que são três horas após decorridos 47 anos levamos na mente uma grande expectativa e pensamos para connosco como estará este meu amigo de aspecto. Chegado ao ponto de encontro o nervosismo aumenta mas não posso demonstrar. Abraçamo-nos Hei... pá! Estás porreiro? Estamos mais velhos. Pois é. Fiquei mais gordo, não tanto, mas tu continuas mais alto. Enfim! são um conjunto de observações ditas de maneira frontal e vividas com bastante intensidade, pois que voltamos à nossa meninice. O tempo começa a passar e já em casa do Augusto surge outro conjunto de emoções tudo para se querer mostrar num ápice; casa,  filhos, netos,  esposa e fotos... olha estás a ver tenho aqui a Fragata e olha também tenho o David Melgueiro. Hei, pá foi neste barco que organizei a minha vida. Deu para ganhar uns dinheiros e percorrer a minha carreira até ao topo. Sabes teve de haver muita organização e vontade de aprender... sabes isso não me faltava, esta conversa já "no porão ó melhor dizendo na casa das máquinas".  Nesta cave da casa onde estão guardados muitos anos de labuta e por força do ofício mais não parece efectivamente do que uma "casa das máquinas" mas já com um certo requinte muito fresca, sofás, máquina de café garrafeira e utensílios de origem que servem de recordação ao desempenhos da função, até oficina para moldar peças há. É uma vida inteira de trabalho que serve o descanso do "Lobo-do-mar" que ajudou a seu navio a navegar muitos milhas. Agora reformado sentam-se dois homens a entrar na pré velhice a lembrarem-se dos seu tempos da Fragata.  É tentar dizer em curto espaço de tempo aquilo que levou 47 anos a passar. Umas conversas bem estruturadas e outras nem por isso dado a ânsia de tudo se querer contar em tão pouco tempo.
Fiquei estarrecido com o que vi com o Augusto em terra, e sua casa na cave tem um local semelhante à "casa das máquinas". Compreendo muito bem a necessidade de um local semelhante onde passou toda uma vida. Só que agora a sua "casa das máquinas" está bem fixada em terra, que certamente serve de recordação dos tempos idos.
Augusto. Esta minha narrativa transmite fielmente o que vi e senti, porque o local magnifico assim o transmite. Estou muito orgulhoso por ti e uma certa ponta de "inveja" de não ter o meu escritório à semelhança da tua "casa das máquinas". Parabéns Augusto!
Estou empolgado em encontrar mais ex-alunos: Já vi o Braz e agora o Augusto, e ainda a "procissão está dentro da igreja".
Este meu rascunho não passa de um brotar de sentimentos vividos esta tarde, sem tão pouco ter sido corrigido e composto. Foi um lançar de emoções para o "papel" que necessita de ser corrigido e composto, mas não o faço! Fica mesmo assim, à semelhança de uma aguarela em que o pincel corre a tela sem pensar na técnica mas sim no pensamento e a emoção de quem o pinta.
Esta transcrição não passa de um  pensamento transcrito para o "papel".
Claro que dei com o caminho, claro! Pois para cá tudo me pareceu mais fácil.
Obrigado Augusto, pelo prazer que me deste em estar contigo esta tarde.
Este texto levou o corrector ortográfico, nem tão pouco a correcção da sua composição. É um risco que corro, mas um risco deliberado de forma a dar expressão ao meu sentimento.
Um forte abraço do Amigo,
Joel Inácio
Ex-aluno nº 15   

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Finalmente encontrámos o Joel, que também quis juntar-se "à nossa Tripulação".


"Marinheiros de Água Doce"

Quem ao passar na rua não ouviu esta expressão popular acima expressa? Pois é! Não íamos ao mar como qualquer marinheiro no exercício da sua actividade náutica, e como o nosso fardamento era idêntico ao de "marujo", razão pela qual a manifestação carinhosa desta expressão à nossa passagem.
Bom! Após esta pequena introdução, em jeito de brincadeira, apresento-me para quem não me conheceu na foto:
Entrei para a Fragata em 1 de Abril de 1963 (?), com 11 anos de idade - só em Julho faço anos -, foi-me atribuído o nº 15. No mesmo dia que me apresentei na Fragata constaram que me encontrava bastante doente, mandaram-me apresentar no Posto Policlínico do Corpo Santo em Lisboa. Assim, regressei a Lisboa, na vedeta da tarde, para ser observado pelo médico de serviço do Posto Clínico. Após a observação fui enviado para  Liga dos Amigos dos Hospitais, onde fiquei internado.
A 3 de Abril, do mesmo ano, a Fragata D. Fernando foi vítima de um violento incêndio a bordo deixando-a quase totalmente destruída. Encontrando-me na altura do fogo internado na Liga dos Hospitais, assim não presenciei nem fui vítima daquele lamentável incidente. Quando voltei à instituição passados alguns meses, após internamento, fui apresentar-me na Capitania do Porto de Setúbal onde se encontrava a Obra Social da Fragata D. Fernando em situação provisória.
Assim, já na instituição em Setúbal aí frequentei as aulas da 4ª Classe - Instrução Primária -, e, em simultâneo, pela mão do seu instrutor cabo "Borracha", a ter aulas com o instrumento "caixa" e a fazer parte da Fanfarra da Fragata D. Fernando. A Fanfarra era muita acarinhada pela população de Setúbal e muito solicitada para as festas religiosas com grandes desfiles na Avenida Luísa Tody, que orgulho sentíamos em tocar na fanfarra e os outros alunos também orgulhosos da sua fanfarra a acompanhava no passeio junto da população que aplaudia e pedia esclarecimentos.
Sinto grande orgulho em ter sido aluno da Fragata D. Fernando II e Glória, ainda hoje!
Não pelas razões quer m levaram àquela instituição, claro! Mas isso foi um grande trauma que devastou a minha família mas que o tempo ajudou a sarar. Assim, pegando na Instrução Primária aí completei com distinção, juntamente com outro aluno e amigo de nome Alegria.
Após a conclusão da Instrução Primária fui para o MNF - Movimento Nacional Feminino, em Junho de 1963, a aguardar idade para poder estudar à noite e ingressar nas Organizações Administrativas das Pescas. Aí encontrei alunos mais velhos que trabalhavam no MNF, com direito a almoço e jantar no Refeitório da Junqueira e pernoitar na Escola de Pesca de Pedrouços, assim como alunos que iam para os Estaleiros da Parry & Son, num total de 12 alunos na época.
Em 1966, já a estudar à noite ingressei nas Organizações das Pescas no Grémio A.P. Bacalhau, tendo sido colocado no Gabinete do Delegado do Governo dos Organismos das Pescas (Sr. Almirante Henrique Tenreiro) como groome/paquete, neste local já tinham passado companheiros da Fragata dos primeiros alunos (1940).
Estudando sempre à noite na Escola Comercial Veiga Beirão e ICL - Instituto Comecial de Lisboa (hoje ISCAL) ingressei no serviço militar até 1974, como miliciano no Ministério do Exército - Direcção do Serviço de Pessoal e Gabinete de sua Excelência o Ministro do Exército, fui para este lugar pela excelente classificação obtida na especialidade - Serviço de Administração Militar (SAM).
Em 1974, fazia parte dos Quadros de Pessoal do Grémio A.P. Bacalhau, regressei ao mesmo e com a sua extinção (Organismos Corporativos) fui colocado na CRCB - Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau, onde me mantive até à sua extinção (1986). Após a extinção da CRCB fui convidado a assumir o cargo de responsável de abastecimento de bacalhau, peixe congelado e marisco para as Beiras e Trás-os-Montes com entreposto na cidade da Guarda, com capacidade para 300 toneladas operacionais nas CRCB, SA - Companhias Reunidas de Congelados e Bacalhau, SA (capital estatal).
Em 1990, fui convidado para ir para o GEPP - Gabinete de Estudos e Planeamento das Pescas, como técnico-superior, onde permaneci durante dois anos até pedir a passagem à reforma da Função Pública.
Em 1993, como consultor de comercialização de pescado (importação) exerci consultadoria com empresa própria a diversas empresas do ramo de pescado congelado e bacalhau.
Em 2000, por motivos de doença fui obrigado a restingir a minha actividade profissional.
Estou reformado da Função Pública, sou TOC por formação (...)
Com orgulho de ter pertencido a uma instituição - Fragata D. Fernando II e Glória/Obra Social da Fragata D. Fernando.
Envio forte abraço para todos os amigos  companheiros

Joel Costa Inácio
(ex-aluno nº 15 - 1963-1964)

Foto 1 e 2: O Joel fardado a rigor, e no Jardim das Janelas Verdes (o terceiro a contar da esquerda) na companhia do Braz, "Alfaçe", "Moçambique", Paulo ("Sapateiro"), João Borrego e "Fanã". Lisboa 1966.  

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Crónica de umas férias ao Sul

 
Foto1: Na foto estão o "Albufeira", "Alcantarilha", Braz, Marcelino e Grifo.
Foto 2: Foto de grupo dos ex-alunos e familiares.
Foto 3: Da esquerda para a direita: "Alcantarilha", Grifo, Braz, Quintino, "João Toureiro", josé Figueiras, Marcelino e "Albufeira".
Foto 4: "Micas" e um amigo, José Figueiras e o Quintino

Foi sempre um hábito que adquiri desde muito jovem, escrever as minhas experiências ao longo da minha existência, registando no papel memórias que foram moldando a minha personalidade, cimentando uma convivência salutar entre os mais diversos amigos que tenho o privilégio de ter de norte a sul. "Crónica de uma férias ao Sul" tem qualquer uma dessas finalidades.
Conforme o prometido, lá se realizou a assada de peixe no Bar da Lota em Lagos, no dia 27 de Agosto, que tinha como objectivo juntar os poucos ex-alunos da Fragata D. Fernando II e Glória residentes no Algarve, ou outros que ali eventualmente estivessem de férias.
Responderam à "chamada" nove ex-alunos na companhia dos seus familiares e amigos, somando na totalidade cerca de 22 pessoas.
Contando comigo, "deram à costa" o Grifo (1) (organizador do encontro) "João Toureiro" (2), "Micas" (3), "Luís Fragata" (4), "Albufeira" (5), "Portimão" (6), Quintino (7) e o "Alcantarilha" (8), este último que já não o via à cerca de 43 anos, sendo para ambos uma enorme satisfação nos termos encontrado de novo, encontro selado com um forte abraço.
O almoço decorreu em tom animado mas com algumas reclamações em relação à qualidade da confecção (que foi melhorada depois de alguns reparos) não deixando de ser mais importante a confraternização que se gerou entre todos. Durante o mesmo foram sorteados um enorme búzio (oferta do Grifo) que saíu ao Marcelino, e um CD que gravei com as fotos e os vídeos do IV Encontro Nacional dos Antigos Alunos da Fragata D. Fernando II e Glória realizado em cacilhas no dia 02 de Abril de 2011, que foi entregue ao "Micas".
Ainda não satisfeitos do repasto, alguns de nós, a convite do Marcelino (que andava felicíssimo e radiante com o nosso encontro) ainda fomos para casa dele petiscar e beber mais uns copos, tendo anoite acabado de uma forma bastante agradável para todos os nela participaram.
Não queria de deixar de salientar que durante estas minhas férias em Portimão, a forma generosa como eu e a minha família fomos recebidos pelo "Albufeira" que, mais parecendo em "cicerone da Junta de Turismo" nos levou a conhecer alguns recantos daquela cidade e das suas praias, nomeadamente o Museu de Portimão onde pudemos apreciar uma exposição da World Press Photo com as fotos premiadas do ano de 2010, levando-nos a conhecer Mexilhoeira Grande (onde fomos ter com o Grifo que tinha prometido oferecer uns búzios à minha filha Mafalda, e que aproveitou a oportunidade para nos contar a sua célebre fuga da Fragata) a Praia do Vau e da Torralta (muito mais sossegadas do que a Praia da Rocha) a Vila de Alvor onde fomos visitar um ex-aluno da Fragata mais conhecido por "Alvor" (9) (que não pode ir ao almoço pelos afazeres no seu estabelecimento).
Vistámos também na mesma vila o "Salvador" (10) que naquele momento estava a iscar o aparelho para se fazer ao mar quando o tempo estiver de feição, lamentando não poder também comparecer à "assada de peixe" por estar ocupado na faina da pesca, onde ainda tenta fazer dela o seu ganha-pão para fazer face à sua parca reforma, aproveitando-se da nossa presença para se indignar contra uma recente lei do actual governo, que impõe a todos os pescadores da sua arte o pagamento de um imposto de cento e tal Euros mensais, quer os anzóis tragam ou não peixe.
Não posso também esquecer os dias que o "Albufeira" nos levou a sua casa, onde pudemos saborear uma belíssima massa de peixe confeccionada pela Natalina sua esposa e, num outro dia, uma excelente sardinhada assada no seu terraço (que tem uma brilhante vista sobre a cidade de Portimão e o rio Arade), que terminou regada com um velho "Old Rarity" escoçês de longa data, sempre acompanhado por longas histórias sobre a sua vida passada nas águas revoltas dos vários oceanos, que aquele "velho lobo do mar" nos ia contando como se estivesse a escrever um livro sobre as suas memórias e inspiradas numa das obras de Jack London (11).
Num dos intervalos destas andanças ainda fomos (eu a Odília e a Mafalda) a Pedras D'El Rei (próximo de Tavira) a convite dos meus amigos de Alhos Vedros Edgar Cantante e sua esposa Celeste Cantante, onde saboeámos umas douradas e uns robalos escalados, seguindo todos, após o almoço, para Ayamonte (Espanha) em que os calamares e o camarão foram o "prato do dia", acompanhados pelo "cinismo mercantilista" dos empregados espanhóis do restaurante "Romero" que se limitavam apenas a receber o dinheiro, tendo todos os clientes ali presentes (na generalidade portugueses) que levar para as suas mesas os copos, pratos, guardanapos e respectivos talheres e todo o consumo que se ia fazendo, tendo eles como única preocupação arrecadar os Euros que entravam na caixa registadora.
Apesar de alguns destes insignificantes episódios que não retiraram o fascínio desta convivência, foram de facto umas férias bem diferentes, partilhadas com os amigos, o que foi para mim um privilégio e uma grande datisfação tê-las passado daquela forma.

Carlos Vardasca
(Braz, ex-aluno nº 14)

(1) António Marques Santos Grifo, ex-aluno nº 244
(2) João Eduardo Ribeiro, ex-aluno nº 308
(3) Amílcar José da Silva Ferro, ex-aluno nº 20
(4) Luís Marcelino Paulo José, ex-aluno nº 238
(5) Victor Manuel Gomes Santos, ex-aluno nº 363
(6) José Figueiras, ex-aluno nº 163
(7) José Manuel Quintino Pereira, ex-aluno nº 454
(8) António Jose Santos, ex-aluno nº 124
(9) José Manuel Santana Salvador, ex-aluno nº 108
(10) José António dos Reis Salvador, ex-aluno nº 115
(11) "O Lobo do Mar", exemplar que teve a amabilidade de me oferecer.