quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Fanfarra da "Fragata" em 1959

Quem se lembra destes tempos? Será que alguns de nós está nesta foto? De facto, olhando para a foto, recordo-me da feição da maioria deles mas do nome nem por isso. Dos poucos de que me recordo, vejo lá no meio o Cabo "Borracha" que orientava a Fanfarra. Tendo em conta o ano (1959), talvez não sejam eles mas parecem-me estar na foto o "Alcantarilha" e o "Russo", (possivelmente não serão) mas dos outros pouco mais sei. Seria interessante que alguém mais atento e com a memória mais fresquinha, se desse ao trabalho em se lembrar onde foi tirada a foto, assim como o nome de todos eles e me enviasse, para que esta foto (que é uma verdadeira relíquia) fique devidamente identificada.
Penso que não será um trabalho difícil, mas que será deveras desafiador e que vai exigir alguma perspicácia, lá isso vai.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Encontrámos mais um "Fragata"

Recordando o Passado
Estimado amigo. Como vai? Aqui, lhe mando a minha foto, e algumas lembranças do tempo que já lá vai.

Eu entrei para a Fragata no ano de 55, e saí em Fevereiro do ano de 57. Sempre e por onde andei, nunca tive receio nem vergonha de dizer que fui aluno da Fragata. Acontece, que numa viagem do navio Timor, para Angola (navio onde eu trabalhava) viajou um colega da Fragata.
Eu assim que o vi, dirigi-me a ele e disse-lhe; que tudo o que ele precisa-se eu estava às suas ordens! Disse-me: que não precisava de nada, virou-me as costas e até Luanda nunca mais me falou.
Deste navio, fui para o navio Funchal. Fazia-mos viagens para a Madeira e Açores e um dia ao chegarmos ao porto do Funchal, vejo o Timor atracado ao cais, e pensei logo em ir lá visitar os amigos que lá tinha. Quando lá fui deparei com um rapaz amigo, encarregado da terceira classe que me levou à secção onde se lavava a loiça e me apontou um colega nosso que tinha a alcunha do “Radar pequeno” visto ser pequeno, e seu irmão muito mais alto ser o “Radar grande”.
Ao ver o Radar reconheci-o logo, e ele nem me deixou dizer mais nada. Começou por dizer que nós nos conhecíamos de outros navios, pois ele nunca esteve na Fragata, e eu ajudei na mentira. Virei-me para o encarregado e disse-lhe:
― De facto não me lembro dele na Fragata mas se ele lá esteve, como eu, então comeu, dormiu, vestiu-se e instruiu-se na Fragata que por fim lhe arranjou um livrinho com o título “ Cédula de Inscrição Marítima” para ele poder governar a vida: ― Se ele desmente tudo isto então não presta e está a cuspir na Mãe que tanto o acarinhou. O “Radar pequeno” ficou todo encarnado.
Mais tarde soube que ele nesse navio, no porto de Leixões, tinha alugado com outros tripulantes um carro para irem à noite para a farra. Alta madrugada tiveram um acidente morrendo ele, e todos os colegas.
Muitos anos mais tarde, já eu era desenhador industrial na Sorefame, na Amora, fui destacado para ir aumentar e reparar a estação do amoníaco da Quimigal no Barreiro. A Sorefame deslocou para lá uma equipa de operários e técnicos. Entre os operários, ia um serralheiro, que teve um acidente grave (caiu-lhe, quando trabalhava na refinaria de Sines uma chapa de ferro na cabeça). Nunca ficou bom, era casado com uma senhora que já tinha um filho.
Morava no Monte de Caparica, perto do meu chefe. Um dia o meu chefe levou-me no carro dele e pelo caminho, foi lamentando a sorte desse serralheiro, dizendo que o enteado era muito mau: nem queria saber dele para nada: Às duas por três diz-me:
― Olhe! ― Ele é tão mau…tão mau, que até foi aluno da Fragata de D. Fernando. Eu aqui viro-me para ele, digo-lhe:
― Na Fragata havia alunos bons e maus como em todo o lado. Respondeu-me ele:
Nada disso, só iam para lá os corrécios.
O que é que você acha de mim? Disse-lhe:
Você não se compara com ele. É um excelente profissional, e toda a gente gosta de si …
Pois olhe, eu fui aluno da Fragata desde 55 a 57. O homem ficou para morrer.
Da Fragata, lembro-me que estávamos amarrados a uma bóia no Mar da Palha e um pouco afastada de nós estava também amarrada a uma bóia a Barca “Foz do Douro” que numa manhã ventosa, rebentou a amarra que a prendia à bóia e veio desgarrada atracar à Fragata.
Foi o fim do mundo, a rapaziada estava cheia de medo, mas pouco tempo depois, saltámos para dentro da Barca até que veio um reboque e a levou.
Do Pessoal, lembro-me do Tenente Vinagre, do Tenente Celestino, (que nós chamava-mos o “Pai Celeste”) e do Tenente Silva. Também me Lembro do Sargento José Gordo, do Sargento Almeida, do Sargento Platino (Mestre da Fragata) do Sargento Cardoso. Das praças, lembro-me do Cabo Paredes (com uma porção de condecorações) do Marinheiro Araújo, que dava instrução aos alunos que tocavam na fanfarra.
Claro que também me lembro do Padre Fatela que creio que morava em Almada.
Fez-me bem recordar o passado. Há muito tempo que não falava sobre a minha vida na Fragata.
Um abraço
Manuel João Carvalho Barrocas
Ex-Aluno nº 159 o “Pachachinha”
Fotos: Quando o Manuel João tocava num convívio para idosos e, em destaque, uma foto sua quando era aluno da Fragata D. Fernando II e Glóiria.